FEDERICO GARCIA LORCA, de Miguel Torga
Garcia Lorca, irmão:
Sou eu, mais uma vez …
Venho negar à humana condição
A humana pequenez
Da ingratidão …
Venho e virei enquanto houver poesia,
Povo e sonho na Ibéria.
Venho e virei à tua romaria
Oferecer-te a miséria
Duma oração lusíada e sombria.
Venho, talefe branco da Nevada,
Filho novo de Espanha!
Venho, e não digas nada;
Deixa um pobre poeta da montanha
Trazer torgas à rosa de Granada!
Indomável cigano
Dos caminhos do tempo e da ventura,
Sensual e profano,
O teu génio floresce cada ano…
Venho ver-te crescer da sepultura!
Bruxo das trevas onde alguém te quis,
Nelas arde a paixão do que escreveste!
Sete palmos de terra, e nenhum diz
Que secou a raiz,
Que partiste ou morreste!
Uma luz que é o aceno da verdade
Abre-se onde os teus versos vão abrindo…
A eternidade,
Na pureza da sua claridade,
Sobre o teu nome, universal, caindo…
in Poemas Ibéricos, Coimbra, 3ª ed., 1985, pp.68-9)
Na foto: García Lorca, por volta de 1904.
Enviado por Antonio Soares Borges
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