De um canto sereno do interior fluminense, pode emergir uma voz que fala ao coração do mundo
Bom Jesus do Itabapoana tem do que se orgulhar.
Seu filho, Elcio Xavier, é considerado um dos grandes poetas do país, reconhecimento que enche de brio o coração bonjesuense e confirma a força da palavra que nasce de nossa terra.
Esse prestígio não se deve apenas à admiração dos leitores, mas ao olhar atento e generoso de três grandes nomes da literatura brasileira que se debruçaram sobre sua obra: Adonias Filho, membro da Academia Brasileira de Letras e crítico literário da terceira fase do modernismo; Lúcio Cardoso, escritor e poeta de alma introspectiva; e Edgar Pereira Coelho, mestre em Filosofia e estudioso da poesia brasileira.
As vozes da crítica
Ao analisar o livro O Véu da Manhã, Adonias Filho afirmou que “Elcio Xavier é um poeta à margem das escolas e dos grupos. Isolado, porém, sua personalidade flagrantemente poderosa nesse livro de estreia o torna um poeta que exige atenção.”
Adonias reconheceu nele uma força autêntica, “uma emoção criadora que se irradia”, e destacou que, em sua poesia, o simples se eleva à condição de descoberta humana.
Já Lúcio Cardoso escreveu palavras de encantamento:
“O título O Véu da Manhã me parece extraordinariamente feliz, por sintetizar toda a força de véus que se descerram ante o ímpeto da descoberta e a aparição da luz.”
Para ele, Elcio Xavier é desses poetas raros que surgem como “intérpretes do sofrimento e da beleza”, capazes de dar forma à alma humana através da linguagem.
Décadas depois, Edgar Pereira Coelho, em ensaio de 2021, incluiu Elcio Xavier entre os poetas neossimbolistas brasileiros da Geração de 45, analisando as obras O Véu da Manhã e Rosaquarium.
Segundo ele, Elcio “pratica uma poética fortemente matizada de tendências simbolistas, com imagens etéreas e uma aura enigmática”, compondo versos em que “a natureza e a alma se fundem numa música delicada e misteriosa”.
O poeta e o seu canto
Elcio Xavier estreou nos anos 1950, conquistando o público e a crítica. Seu lirismo nasce do encontro entre o humano e o sagrado, entre a dor e a descoberta, entre a argila e a luz.
Nos versos que atravessam o tempo, ele molda sentimentos como quem molda o barro, com ternura e precisão.
Filho de Bom Jesus do Itabapoana, Elcio foi também coroinha do Padre Antônio Francisco de Mello, açoriano e poeta, outro nome que deixou marcas profundas na história literária e espiritual do município.
Hoje, novos poetas bonjesuenses seguem esse caminho de beleza e palavra, como demonstra a fundação da ABIJAL, Academia Bonjesuense Infantojuvenil de Artes e Letras, onde o futuro é gestado com poesia, esperança e amor à cultura.
Um legado que floresce
Ler o que personalidades da literatura nacional escreveram sobre Elcio Xavier, o “Príncipe dos Poetas”, é reviver a certeza de que a poesia não conhece fronteiras, apenas raízes.
E que, de um canto sereno do interior fluminense, pode emergir uma voz que fala ao coração do mundo.
![]() |
Nenhum comentário:
Postar um comentário