terça-feira, 14 de outubro de 2025

Histórico: Manuscritos do açoriano Padre Antônio Francisco de Mello são reencontrados em Lisboa e revelam o papel do sacerdote na história da imigração açoriana no Brasil

Descoberta feita pelo pesquisador Dr. Márcio Pacheco revela novos capítulos da história da imigração açoriana e devolve à memória bonjesuense o legado de um de seus mais ilustres sacerdotes


Arte: Cláudia Borges Bastos 

À medida que novos documentos vêm à luz, a história se recompõe, delicadamente, como as peças de um antigo quebra-cabeça. Entre papéis amarelados e memórias quase esquecidas, um dos mistérios mais silenciosos de Bom Jesus do Itabapoana, RJ, começa, enfim, a se desfazer: o destino dos livros que formavam a preciosa biblioteca do Padre Antônio Francisco de Mello, desaparecida após sua morte, em 13 de agosto de 1947.

Por uma daquelas coincidências que parecem guiadas por mãos invisíveis, ou, como diriam os devotos, por uma obra do Divino Espírito Santo, o pesquisador Dr. Márcio Pacheco encontrou-se diante de uma descoberta improvável. Em um modesto alfarrábio de Lisboa (sebo), entre volumes de letras rendilhadas e páginas de outro tempo, adquiriu alguns manuscritos apenas pela beleza das caligrafias antigas.

Somente ao examiná-los em casa percebeu o insólito milagre: tratava-se de manuscritos originais do açoriano Padre Antônio Francisco de Mello, figura espiritual e intelectual de grande importância na história da imigração açoriana no Brasil.

As páginas revelam um homem de fé e erudição que, muito além de seu altar, foi ponto de referência para os imigrantes açorianos. Viveu o Atlântico não como distância, mas como ponte. Deixou o Rio de Janeiro em viagens até Florianópolis, então uma das principais colônias açorianas, onde conheceu o Cônego José Fabriciano Pereira Serpa, outro nome fundamental no amparo aos recém-chegados das ilhas.

Naquele litoral, em Santo Antônio de Lisboa, a herança açoriana permanece viva: o casario branco e azul, as ruas de pedra, o aroma dos frutos do mar e a fé na festa do Divino Espírito Santo. A paróquia, fundada em 1750, continua guardando o mesmo templo de traços do século XVIII, um relicário da presença insular açoriana em terras catarinenses.

Padre Mello, radicado em Bom Jesus do Itabapoana, no estado do Rio de Janeiro, era elo entre as terras. Ia à cidade do Rio de Janeiro, quando os navios chegavam e recebia medicamentos, livros e notícias, enviava conforto espiritual e palavras de esperança. Por ele, transitavam não apenas cartas e remédios, mas o sopro cultural de um povo que buscava se firmar na nova pátria.

Agora, quase oito décadas depois de sua morte, o círculo se fecha em gesto de rara beleza. O Dr. Márcio Pacheco decidiu doar os manuscritos e o acervo recuperado do Padre Mello à Casa dos Açores do Espírito Santo (CAES), sediada no município de Apiacá, onde Padre Mello pernoitou no dia 17 de junho de 1899, antes de chegar a cavalo em Bom Jesus do Itabapoana. Assim, as palavras do sacerdote retornarão à região que ele escolheu para servir, o Brasil, e à comunidade que manteve acesa a chama de sua origem.

Do arquipélago de São Miguel às margens do Itabapoana, do mar que separa ao mar que une, a luz do Padre Mello volta a brilhar. E talvez, nas entrelinhas de seus escritos, ainda ecoe a prece dos que atravessaram o oceano guiados pela fé, pela coragem e pela música suave das ilhas:

“O que se perde na terra, o tempo e o amor devolvem no instante certo.”

Pe. Antônio Francisco de Mello chegou ao Rio de Janeiro, no dia 04 de outubro de 1895, através do Vapor Argentina, de nacionalidade alemã, a partir da ilha da Terceira, no Arquipélago dos Açores. Chegou  a Bom Jesus do Itabapoana, no dia 18 de junho de 1899, após ser pároco em Sapucaia (RJ), aqui se estabelecendo até o dia 13 de agosto de 1947, fixando seu nome na eternidade




Nenhum comentário:

Postar um comentário