. o belo também educa
. beleza não é luxo: é raiz
. o espaço em que vivemos pode nos ensinar a ver o mundo com mais ternura
. As cidades parecem ter esquecido que também têm coração. Falta sombra, falta alma, falta o toque humano que transforma o espaço em abrigo
Há ruas que não precisam de palavras. Caminhar por elas é como folhear um livro que se escreveu sozinho, letra por letra, pedra por pedra. As janelas antigas, de madeira já cansada, ainda respiram. Os telhados curvos, as esquadrias que guardam o tempo, tudo ali parece murmurar uma história que o concreto moderno esqueceu de contar.
A arquitetura tradicional tem essa delicadeza: ela não grita, fala baixinho. Não se ergue para dominar o olhar, mas para acolhê-lo. É beleza que nasce do ofício paciente das mãos, da harmonia entre forma e alma, da vontade de construir algo que dure mais do que a pressa.
Nas casas antigas, a beleza não é enfeite, é memória solidificada. Cada arco, cada ornamento, carrega o gesto de quem acreditava que o belo também educa, que o espaço em que vivemos pode nos ensinar a ver o mundo com mais ternura.
Hoje, entre arranha-céus de vidro e concreto liso, falta-nos esse olhar. As cidades parecem ter esquecido que também têm coração. Falta sombra, falta alma, falta o toque humano que transforma o espaço em abrigo.
Mas basta dobrar uma esquina onde o tempo ainda resiste, uma varanda de ferro rendado, uma porta azul descascada, um sobrado que teima em permanecer, para lembrar que a beleza não é luxo: é raiz. E que preservar a arquitetura tradicional é preservar o direito de morar dentro da poesia.
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