quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Padre Mello: o Padre que fez da vida um poema

 

Gino Martins Borges Bastos 

Padre Mello foi escritor, poeta, memorialista, redator do jornal Meu Campinho e responsável pelos registros de propriedade em nossa região.

Foi também músico e compositor, autor do hino do antigo Colégio Rio Branco.

Sua notável força poética pode ser constatada no poema “Soneto para um jovem cego”, publicado em 11 de dezembro de 1932, no jornal O Lar Católico (MG). No último terceto, ele verseja com profunda sensibilidade:

“Para todos nós, a vida é um espinho agudo;

temos a mesma sorte, o mesmo sofrimento,

tu porque nada vês, nós porque vemos tudo.”

Em seu soneto mais festejado, "Morrer sonhando", concluiu assim:

"Morrer sonhando é despertar na glória;

eis a vitória! Morrerei assim"

Além disso, Padre Mello possuía conhecimentos de engenharia, tendo projetado e construído a bela fachada da Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus, com suas duas torres, e orientado a construção de outros prédios na cidade.

Demonstrava também saber prático sobre os métodos de plantio de café, razão pela qual promoveu a orientação técnica no cultivo dessa cultura na região.

Homem de ação e fé, foi ainda ativista político, participando ativamente da luta pela segunda emancipação de nosso município, ocorrida em 1º de janeiro de 1939.

Padre Mello impulsionou também a tradicional Festa do Divino, que teve início em Bom Jesus entre 1860 e 1862. Ao chegar à cidade, em 18 de junho de 1899, promoveu a entronização da coroa e incorporou o Hino do Divino Espírito Santo, aqui conhecido como Hino da Alva Pomba, de autoria de seu conterrâneo da Ilha de São Miguel, Padre Delgado. A Festa do Divino deu origem à atual e tradicional Festa de Agosto, símbolo da religiosidade e da cultura bonjesuense.

O escritor Octacílio de Aquino, em 1942, registrou um episódio que demonstra a influência do pároco sobre a juventude: certa vez, uma criança disse aos pais, “O que eu quero é estudar para Padre Mello.” Tal expressão revela o prestígio e a inspiração que ele representava para as novas gerações.

O poeta Elcio Xavier, que serviu como coroinha na época, afirmou em suas memórias que o pároco era “um verdadeiro homem de Deus.”

Em depoimento, Ruth Fragoso de Azevedo Silveira relatou que Padre Mello convivia com seus avós, por serem conterrâneos, e lembrou que “ele fez voto de pobreza; seus pertences eram doados por amigos. A partir de certa época, passou a morar em um pequeno quarto ao lado da Igreja Matriz, onde faleceu na mais absoluta pobreza, com ares de santidade.”

Conhecer a vida de Padre Mello, sua obra, sua fé e seu legado de humanismo, é, portanto, um convite permanente à reflexão e à imitação. Seu exemplo permanece vivo na memória de Bom Jesus, como testemunho de vocação, humildade e amor ao próximo.





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