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Padre João Caetano Flores |
ANTÓNIO MANUEL FRANCISCO DE MELLO
Foi Capelão da Ribeira Chã
Nasceu este illustre Sacerdote na Freguesia da Achada em 24-4-1863. Foi baptizado na referida Paróquia em 25-5-1863 (Achada), e pertence à Ouvidoria de Vila Franca do Campo.
Filho de Francisco de Melo e de Rosa Maria Pimentel, naturais de Nossa Senhora da Assunção. Neto paterno de Sebastião Francisco de Melo e de Joana de Mendonça, naturais e baptizados em São Pedro de Nordestinho; materno de António Francisco e de Rosa Pimentel naturais e baptizados na Achada.
Frequentou o Seminário de Angra (sendo estudante exemplar, pessoa lida e de tendência para a poesia).
Foi ordenado Sacerdote na Capela do Paço Episcopal em 25-8-1888, por D. Francisco Maria de Sousa Prado de Lacerda, Bispo Titular de Neapolis e futuro Sucessor do Bispo de Angra (Angra, 8 Nº 54).
Foi capelão da Ribeira Chã, à expensas do Senhor Marquês da Praia e Monforte, desde 1889 a 1895. Viveu nesta Paróquia na Rua de São José, na casa que pertence ao Senhor José Caetano da Costa.
A sua acção pastoral tanto no campo espiritual e social foi exemplar como podemos provar pelo extracto duma acta da Câmara Municipal de Lagoa de 10-1-1891.
“Apresentou o senhor vereador Jacinto Soares de Medeiros um mappa estatístico da epidemia de febres tyfoides que grassou no logar da Ribeira Chã durante os meses de setembro do anno findo e dezembro do mesmo anno, pelo qual mappa se vê terem sido attendos da dita epidemia, cento e doze individuos, e que, devido ao zelo incançável do cirurgião João Soares de Medeiros, apenas houveram cinco casos fataes e sendo visto que o dito sirurgião tem jus a ser gratificado dos seus incomodos pelas rendas deste municipio, visto sere encarregado por esta Câmara de fazer as visitas domiciliarias aos doentes, propor o dito Senhor vereador que esta Câmara arbitrasse a gratificação de sessenta e oito mil e quatrocentos reis, a razão de mil e oitocentos reis por cada visita. E como no orçamento do actual anno não existe verba para pagamento da dita gratificação deliberou-se que se esquadrasse a organização de qualquer orgão supplementar para ser nello inserido. E constando das observações feitas no referido mappa pelo dito cirurgião João Soares de Medeiros que o capellão de Lagoa da Ribeira Chã António Francisco de Melo se distingue em acto de caridade, já assistindo como enfermeiro aos doentes, ministrando-lhes as dietas gratuitamente algumas delas aos doentes mais indigentes, e que tambem muito concorreu para o diminuitimíssimo numero de casos fataes, por isso, sob proposito do senhor vereador Jacinto Soares de Medeiros deliberou-se que na presente acta se lançasse um voto de louvor ao dito Capellão Reverendo António Francisco de Mello pelos sentimentos de humanidade que lhe são peculiares e pela generosidade com que voluntariamente se prestou a servir os doentes como enfermeiro”.
Saiu da Ribeira Chã, para o Brasil, onde faleceu a 13 de Agosto de 1947, com a idade de 84 anos, em Bom Jesus de Itabapoana, Diocese de Campos, Estado do Rio de Janeiro, onde passou a maior parte da sua vida.
AS SUAS OBRAS LITERÁRIAS SÃO:
COFRE DAS ANEDOTAS - A melhor colecção de ditos agudos, disparates, puerilidades, sentenças e factos morais (Angra do Heroismo -Tipografia dos Dois Amigos - Rua de Jesus Nº 44 - 1887).
O PADRE – poemeto, feito ainda quando estudante (Ponta Delgada, 1890 - Tipografia Popular - Rua da Canada) 150 rs.
ARMAS - Epicedio à morte do sempre chorado Director Espiritual do Seminário de Angra - Pe. João Jacinto Armas d’Amaral (Ponta Delgada 1891 - 100rs).
MATUTINAS - Colecção de poesias, 164 páginas, dedicadas ao Senhor Marques da Praia e de Monforte, em testemunho de gratidão (Ponta Delgada, 1891 - Tipografia do Campeão Popular, 500 rs)
LXXIII - 19 de Fevereiro 1843-1893, poesia dedicada ao Senhor Bispo D. Francisco Ribeiro Vieira de Brito, Bispo de Angra (Ponta Delgada - 1893. Tipografia do Campeão Popular).
Publicou ainda os poemas Vitória do Gênio, Os Caballos de Zézinho e Visão da Morte.
É autor do actual hino do Seminário Episcopal de Angra.
O Ilustre escritor, poeta e professor Senhor RUY GALVÃO DE CARVALHO, na sua ANTOLOGIA POÉTICA DOS AÇORES (1.º Volume 1979) à página 170 escreve o seguinte acerca da obra poética deste ilustre Sacerdote:
“São as suas poesias formalmente singelas, mas espontâneas, rústicas por vezes, porém mimosas no seu lirismo essencial.
O poeta micaelense não se serve pois de imagens fictícias nem de expressões empoladas. Neste tudo é simples e sonoro, os ditos análises, os seus versos espontâneos como a água da nascente deslizando por entre vales floridos e prados ridentes..
Uma alma de idealista e um coração de sonhador romântico, eis o que exprimem os versos de António Manuel Francisco de Melo!"
Alguns, para exemplificação.
CANÇÕES, MINHAS CANÇÕES...
Canções, minhas canções, pálidas flores
tão filhas da minh'alma quanto dela
afectos exprimi, prazer e dores,
ide sorrir à luz. Na cor singela
mistérios ideais vos não imprime
amor, que tantos peitos esfacela.
Emora. A luz sagrada, a luz sublime
que os estros incendia tudo abraça;
restringi-la ao amor seria um crime.
Que gênio às musas dado não esvoaça
pelas regiões do Olimpo entre a floresta,
entre as rosas e a brisa que perpassa?
que lira não acorda ao som da orquestra
que, aguarda a aurora no frondoso prado
ou o arrebol que no horizonte resta?
Quem contemplou o manto estrelado
olhos de estátua e coração de gelo
se doce inspiração o céu lhe há dado?
Que bardo não ousou quebrar o selo
com que o século esconde a chaga horrente
nem ergueu à virtude um canto belo?
Quem não chama de Deus o olhar eloquente
nas ansias duma dor ou não lhe tece
hino de fé, hino de amor fervente?
Canções, minhas canções, se resplandeces
em vós a luz das regiões divinas,
como se tanto a arte não socorra
desculpe-nos o nome – Matutinas
TRIBUTO DE ADMIRAÇÃO E RESPEITO
à Ex. Mª D. Maria F. Borges Coutinho
São assim as almas boas.
Lá do aureo resplendor
não do pobre a providencia,
seu sorriso e seu amor.
Vós, senhora, bem seguis
aquelle exemplo sublime
de Jesus que assim se exprime:
Amo as almas infantis.
Olhastes com caridade
estes pobres pequeninos
que são reflexos divinos
perdidos na obscuridade.
Vestistes os seus corpinhos
com mimos da vossa mão.
Ah! quantos, quantos espinhos
não abafastes no chão!
Quantas lágrimas, Senhora,
não vi brotar de prazer
d'olhos que talvez, quem sabe?!
já cançaram de soffrer!
É assim que a doce aurora
enche o ceo com seu sorriso,
é assim que a primavera
faz da terra um paraiso.
Bem haja o rico e o nobre
que esquece o próprio esplendor
para baixar sobre o pobre
seus olhos cheios de amor.
Choram na vossa existência
tantas graças divinas
quantos risos d'innocencia
nas creanças que adoptais.
NOTA: Já são dois annos decorridos depois que o povo da Ribeira Chã foi surprenhendido por um acto de verdadeira caridade. Poucos dias antes da festa da Imaculada Conceição recebeu-se alli um grosso embrulho que continha oito fatinhos e um bilhete que dava ordem expressa para que elles fossem distribuídos pela oito creancitas mais pobres do logar no dia oito de dezembro. Estes fatinhos tinham surgido, em horas d’ocio, d’entre os dedos da iluste offerente a Ex.ma Snrª D. Maria Francisca Borges Coutinho.
HINO DO SEMINÁRIO
Se há grandeza, no mundo é aquela
que surgiu sob o influxo dos Céus.
é por isso que és grande e que és bela,
Casa Santa e Mimosa de Deus.
Como um astro que ri de bonança
através do horizonte sem luz,
assim, tu és a doce esperança
dos que vivem à sombra da Cruz.
Exultai nobres filhos da Ciência,
que da Fé recebeis o vigor!
Consagrai toda a vossa existência
aos combates da Cruz do Senhor!
Arrancados a braços convulsos
ternos filhos demandam teu lar;
aqui tomam vigor em seus pulsos
com que irão para o Mundo lutar.
Há lá fora paixões e ignorância
que nas almas as trevas produzem!
das levitas, esp'rados com ânsia
que disparam, nas trevas, a luz.
Vai a nuvem mais ténue e ligeira
encrespa-se no pêgo sem fim,
para vir fecundar a clareira;
como a nuvem, são eles assim.
Seja o filho plebeu, seja o nobre,
do festim ou da dor todos vêm;
mas depois, já nem rico nem pobre
distingui-los não sabe ninguém.
É assim que teu código ensina
que mais alta riqueza não há
que a ciência que a mente ilumina
e a virtude que a Glória dos dá.
Abençoada, mil vezes bendita
seja a mão que do nada te ergueu!
abençoado quem hoje te excita
os auxílios da terra e do Céu!
Aos murmúrios da brisa ou da onda
destas plagas que envolve o Açor,
se misture o teu nome e responda
cada qual, com mil preitos d'amor.
A. F. de Mello
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