quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Bom Jesus: o melhor país do mundo (e o sonho açoriano)



Ana Maria Silveira nasceu entre histórias, e delas fez abrigo. Filha do ex-governador Badger Silveira, ela carrega o sobrenome como se fosse uma chave: a que abre as portas do passado. Guardiã da memória da família açordescendente Silveira, Ana Maria transformou lembranças em palavras e palavras em patrimônio.

Nos textos que publicou no jornal O Norte Fluminense, e depois reuniu no livro “Vidas e História - Crônicas de Família” (Editora O Norte Fluminense, 2018), há mais que registros: há vida, afeto e o brilho sereno de quem escreve com o coração voltado para o tempo.

Ana Maria é daquelas contadoras de causos que não apenas narram, encantam. Entre risos e saudades, certa vez escreveu: “Jacira Barroso disse que Bom Jesus era a melhor cidade do mundo!
Badger Silveira dizia: ‘Bom Jesus é o melhor país do mundo!’”

E talvez Badger tivesse razão. Talvez visse, com o olhar agudo dos que conhecem sua gente, aquilo que o intelectual Delton de Mattos chamou de bonjesuísmo, esse modo tão particular de ser e sentir, que nasce da confiança em nossas próprias raízes.

O bonjesuísmo é mais que amor à terra natal: é soberania cultural. É a recusa em imitar o alheio, a coragem de seguir caminhos próprios, de criar soluções nascidas da alma local.

É a consciência de que a verdadeira identidade não se compra nem se copia, cultiva-se. Por isso, quando Ana Maria escreve, Bom Jesus deixa de ser ponto no mapa.
Torna-se país imaginário e real, território de memória e orgulho.

E nós, leitores, compreendemos: há lugares que cabem dentro de uma frase, e corações que, como o dela, cabem dentro de uma cidade inteira.


"GOVERNAR EM TEMPOS DIFÍCEIS.1964. MEMÓRIAS DE BADGER SILVEIRA", outro livro lançado pela Editora O Norte Fluminense, com textos inéditos  datilografados pelo ex-governador Badger Silveira, em 2018

Ana Maria Silveira, a guardiã da memória da família Silveira 


                        O Sonho Açoriano de Bom Jesus


Memorial Governadores Roberto e Badger Silveira, no Sítio Rio Preto, distrito de Calheiros 

Manuel Ignácio da Silveira nasceu entre montanhas e mares a semente de uma história que o tempo não apagou. Vindo da freguesia da Candelária, na ilha do Pico, Açores, partiu em 1834 rumo ao Rio de Janeiro, trazendo no olhar o azul do Atlântico e na alma a coragem dos que cruzam o mar para reinventar o destino.

Seu filho, Antônio Ignácio da Silveira, herdou mais que o nome: herdou a bravura. Chegou a Bom Jesus do Itabapoana levando apenas uma viola de arame e um punhado de sonhos, e com eles começou a tecer os fios de uma linhagem que marcaria o futuro do Estado do Rio de Janeiro.

Do casamento de Antônio com Maria Borges, nasceu Boanerges Borges da Silveira, que uniu-se à bonjesuense Maria do Carmo Teixeira, a doce Biluca. Dessa união nasceram filhos que fariam da política uma extensão da alma familiar: Roberto, Badger, José Teixeira (Zequinha), Dinah e Maria da Penha Silveiratodos herdeiros da tenacidade açoriana e da sensibilidade fluminense.

Em 1959, Roberto Silveira assumiu o governo do Estado do Rio de Janeiro, jovem, idealista, guiado pela esperança. Queria fazer de Bom Jesus um polo industrial, símbolo de progresso e autonomia. Mas o destino, breve e trágico, o colheu em fevereiro de 1961, aos 37 anos, em um acidente de helicóptero quando tentava socorrer um povo atingido por enchentes.

Seu irmão, Badger Silveira, tomou o leme do Estado em 1963, movido pelo mesmo ideal: realizar os sonhos de Roberto, consolidar a força de Bom Jesus, transformar o interior em potência.
Mas a história, essa que é feita de ventos e reveses, o alcançou com o golpe de 1964. Badger foi cassado, silenciado por dez anos, mas não vencido.

Zequinha Silveira foi eleito o primeiro prefeito de Nova Esperança (PR), cargo que exerceu entre 1951 e 1954. Foi eleito, ainda pelo Paraná, deputado estadual, cargo que ocupou entre 1955 e 1959 e deputado federal, cargo que exerceu até 1963, ocasião em que abandonou a vida política, em decorrência da morte de seu irmão Roberto Silveira.

Décadas depois, no dia 7 de agosto de 2016, a memória se ergueu como monumento. Em Calheiros, distrito onde nasceram os irmãos governadores, foi inaugurado o Memorial Governadores Roberto e Badger Silveira, símbolo de uma história que não aceita o esquecimento.

Desde então, as colinas e ruas de Bom Jesus voltaram a ecoar o mesmo sonho açoriano, entrelaçado aos ideais do Padre Antônio Francisco de Mello e às memórias das famílias Seródio, Rezende, Borges e Dutra: o sonho de um povo que acredita em si, que constrói com as próprias mãos o futuro e que chama sua terra de pátria.”

Porque, no coração dos bonjesuenses, Bom Jesus não é apenas cidade, é destino, é herança, é mar e montanha, é o melhor país do mundo.


Ana Maria Silveira autografando os livros na praça Governador Portela, em 2018



 
Família Silveirada à frente do Memorial Governadores Roberto e Badger Silveira 


Café da manhã da Silveirada no Memorial Governadores Roberto e Badger Silveira 

Silveirada na praça Três Irmãos (Roberto, Badger e Zequinha Silveira), em Calheiros 

Almoço da Silveirada no Instituto Rio Life 

Wilma Martins Teixeira Coutinho, Cristina Silveira e Zezé Teixeira, na CAES, Casa dos Açores do Espírito Santo, em Apiacá 


Ana Maria Silveira e Dr Nino Moreira Seródio, presidente da CAES 


Família Silveirada na praça Governador Portela 





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