sábado, 1 de novembro de 2025

Adson do Amaral envia poema ao jornal O Norte Fluminense: 93 anos de poesia e luz

 


Adson do Amaral 

Às vésperas de completar 93 anos, o escritor e poeta Adson do Amaral, autor de doze livros e de uma vida inteira dedicada à palavra, residente em Vitória, ES, envia ao Jornal O Norte Fluminense o que chama, com modéstia e ternura, de “meu último poema”. Em sua mensagem ao editor, escreveu:

 “Estou enviando o meu último poema, às vésperas de comemorar 93 anos; se o achar conforme, peço a Vossa Excelência publicá-lo no excelente Jornal O Norte Fluminense. Abraços. Gentileza acusar recebimento. Seu admirador.”

O pedido, singelo e afetuoso, revela a elegância de um autor que, mesmo após quase um século de vida, conserva o brilho sereno da juventude espiritual.

Mas o que se pode dizer de Adson do Amaral, aos 92 anos, agora 93, autor da festejada obra Tributo a Brasília e de tantos outros títulos que enriquecem a literatura brasileira? Talvez que sua poesia seja o reflexo mais puro de uma alma que aprendeu a dialogar com o tempo e a transcendê-lo.

Seu novo poema, intitulado “ALMO”, chega como uma oferenda ao sol da vida e à eternidade da arte. Escrito em versos soltos decassílabos heróicos, sáficos e “adisoninos”, uma marca pessoal de seu estilo, o texto evoca as tradições clássicas de Tomás Antônio Gonzaga, em Cartas Chilenas, e de Olavo Bilac, que também celebraram o idioma e a pátria com fervor e métrica.

Nos primeiros versos, Adson invoca a luz primordial com a força de quem ainda vê beleza no amanhecer:

O ALMO SOL BRASILEIRO!

Ama com fé e orgulho, a terra em que nasceste!”, (Olavo Bilac, em A Pátria)

O SOL ALMO que a vida impulsiona

Em longínquas regiões insinua-se,

Vencendo trevas abissais das fossas

Do infinito entre pedaços de imagens

Geométricas, rútilas ou noturnas,

Que rolam entre colossos siderais

Arcada celeste além aos milhões

Em pelágios fossos do mar sem fim,

Negror do espaço/tempo... infinitos,

Evocando os guerreiros do deus Rá.

Todo o seu grande poema, que será publicado integralmente na edição de novembro do jornal, é uma verdadeira sagração da existência, onde o sol é mais que astro: é símbolo da persistência humana, metáfora da criação e centelha divina que move o verso.

Neste aniversário, celebramos não apenas a idade, mas o renascimento poético de Adson do Amaral, que segue transformando o tempo em arte e a vida em memória.

Que Deus continue o abençoando com os sonhos de poesias, e as poesias de sonhos, que sempre o acompanharam. Que venham novos anos, novas páginas, novos versos, junto à sua digna família, que é seu orgulho e o reflexo da serenidade que construiu com amor e sabedoria.

Parabéns, Adson do Amaral, o poeta que fez do sol o seu espelho. 

A loucura coletiva: a ruína e o caos na Europa e no Brasil

 


A necessidade de combater a loucura coletiva


“Após décadas, a Europa está mais uma vez mergulhada numa loucura coletiva que nos conduz à guerra, à decadência e ao caos”, afirmou Lubos Blaha, vice-presidente do Smer, partido governante na Eslováquia.

Segundo ele, Eslováquia, Hungria e República Tcheca poderiam opor-se conjuntamente às iniciativas da União Europeia em relação à Ucrânia.

“Ações conjuntas por parte daqueles que ainda conservam o bom senso na Europa não são apenas possíveis, mas também prováveis”, declarou o político em entrevista publicada neste sábado.

A questão que se impõe é se essa loucura coletiva, essa decadência e esse caos também não teriam chegado ao Brasil.

A Europa, outrora berço da civilização ocidental e símbolo do progresso humano, vive hoje um período de incertezas e fragmentação. O continente que ergueu impérios, moldou a ciência moderna e ditou o ritmo da cultura global encontra-se mergulhado em um labirinto de crises, econômicas, políticas, sociais e morais. O brilho de suas catedrais e universidades contrasta com o peso de suas contradições contemporâneas.

A decadência europeia não é apenas material, mas também espiritual. As guerras do século XX deixaram cicatrizes profundas que jamais se fecharam completamente, e a promessa de uma união estável, encarnada pela União Europeia, mostra-se cada vez mais frágil diante das tensões internas. A ascensão de nacionalismos, o colapso de valores comuns e o medo diante das ondas migratórias revelam um continente dividido entre a nostalgia do passado e a incapacidade de construir um futuro coeso.

Enquanto as ruas das grandes capitais se tornam palco de protestos e o desemprego corrói a juventude, o velho continente parece ter perdido o sentido de direção. A cultura, antes universalista e humanista, cede espaço à apatia e ao ceticismo. O caos europeu é, em parte, o resultado de sua própria grandeza: o peso da história sufoca a capacidade de renovação.

Entre o esplendor de suas ruínas e o eco de suas contradições, a Europa assiste, perplexa, ao declínio de uma era. Sua decadência talvez não represente o fim, mas sim o prenúncio de uma transformação necessária, uma travessia dolorosa entre a memória gloriosa e a urgência de reinventar-se em um mundo que já não gira ao seu redor.

Mas o alerta que vem da Europa não deve ser ignorado. O Brasil, embora jovem e cheio de potencial, repete muitos dos erros do velho continente: a polarização cega, a degradação moral, o desprezo pelo conhecimento e a erosão das instituições. A sociedade se acostuma ao caos, o ódio se disfarça de opinião, e a ignorância se traveste de virtude. Assim começa toda decadência, não com bombas ou revoluções, mas com o silêncio diante da desordem.

Enquanto a Europa tenta compreender sua própria ruína, o Brasil brinca à beira do mesmo abismo, acreditando que a instabilidade é apenas parte do jogo político. No entanto, a história é implacável com os povos que insistem em ignorar seus sinais. A decadência não acontece de um dia para o outro: ela se infiltra lentamente, nos discursos, nas instituições e nas consciências.

Se nada for feito, se não houver lucidez, coragem e compromisso com a verdade, corremos o risco de assistir, também por aqui, ao mesmo espetáculo de declínio que hoje assombra a Europa. E, quando o caos se instalar de vez, já não haverá culpados, apenas sobreviventes.






A Noite em que Getúlio Vargas Filho Dançou em Bom Jesus

 Quando o Filho do Presidente Veio ao Interior: a visita de Getúlio Vargas Filho a Bom Jesus

Getúlio Vargas Filho, com o filho Getúlio Vargas da Costa Gama no colo, e o pai Getúlio Vargas, em Petrópolis, 8 de março de 1941


                                   O Primeiro Baile

Era noite de São João em Bom Jesus do Itabapoana, em 1940, e o relógio marcava dez horas quando o Palacete do Malvino Rangel se abriu em luz e som. Os salões, já repletos de elegância e perfumes, acolhiam a sociedade bonjesuense em sua mais fina apresentação. Um conjunto musical, reunindo talentos de Campos e da própria terra, embalava a festa com valsas e marchas, enquanto os pares chegavam, envoltos em murmúrios e sorrisos.

                                      A Chegada

O doutor Octacílio de Aquino, sempre cortês, tomou a palavra. Apresentou à distinta plateia o ilustre visitante, o Dr. Getúlio Vargas Filho, que recebeu, entre aplausos e vivas, o calor de uma gente hospitaleira. Então, como que obedecendo ao compasso de um destino solene, formou-se o primeiro par da noite: o jovem doutor e a gentil senhorita Letícia Freitas. Quando começaram a dançar, parecia que o salão inteiro os acompanhava, movido pela cadência da música e pelo encanto daquele instante inaugural.

                                 O Encanto da Festa

O salão principal, adornado com folhagens, respirava o espírito do sertão e do São João. Havia ali um contraste encantador entre a simplicidade rústica da decoração e o requinte dos trajes. As damas, em chitas coloridas que giravam como flores ao vento, e os cavalheiros, de trajes de passeio e gravatas bem postas, davam vida a um quadro de rara harmonia.

Do lado de fora, uma fogueira ardia diante do palacete, lançando fagulhas que dançavam no ar noturno. E, enquanto a música ecoava pelas ruas, parecia que toda a cidade festejava não apenas um visitante ilustre, mas também a própria alegria de viver.

Getúlio Vargas Filho ladeado pelo prefeito José de Oliveira Borges e comitiva, em Bom Jesus do Itabapoana, 24 de junho de 1940

Getúlio Vargas Filho, centro, em 1939, no Rio de Janeiro, ladeado da mãe Darcy Sarmanho Vargas e Alzira Vargas do Amaral Peixoto 

Palacete do Malvino Rangel recepcionou festivamente Getúlio Vargas Filho em 1940