Arnaldo Vargas Figueiredo
Nossa história contada aqui é verdadeira, seu personagem
existiu, apenas o título é sugestivo, mas que nos leva a pensar como uma pessoa
pode ser tão especial assim e possuidora de tantas habilidades.
O nome do nosso
“anjo” é FRANCISCO NUNES, carinhosamente chamado por todos de Sô Chiquinho, como
a ele nos referiremos daqui para frente, tornando conhecida a sua história de
vida. O Sr. Chiquinho era, sem sombra de dúvidas, o cidadão mais inteligente de
nossa acolhedora e bela vila de Rosal.
Era filho de outro cidadão também muito
especial, nobre e caridoso, piedoso e rico para os padrões de nossa época,
possuidor de terras, gado, montarias e uma grande e bonita casa da nossa citada
vila. O pai de Chiquinho era o CAPITÃO ANSELMO NUNES. Você talvez não saiba,
naquele remoto passado, viajar para a cidade e capital federal do Rio de
Janeiro não era para qualquer um, precisava-se de recursos primeiramente e
também de conhecimento.
Havia quem dissesse que os abastados iam ao Rio, também
contribuir com a república fazendo doações em dinheiro e “recebendo” de
recompensa um título, nesse caso de Capitão, proporcional ao valor despendido.
Lembro-me muito bem da ocasião em que o Capitão voltou de sua apoteótica viagem
ao Rio.
O povo foi ao casarão da vila para saber das novidades e ver as
lembranças e presentes que o senhor Capitão Anselmo Nunes havia trazido. Bons
tempos aqueles, tudo era novidade para nós e para todos de modo geral, havia
sonhos, expectativa, desejos de se conseguir o inimaginável. Voltemos ao nosso
principal personagem desta história, senhor Chiquinho.
Ele tinha uma das suas
pernas amputadas, usava uma perna de pau que ia do pé até bem em cima. Não sei
bem o que aconteceu com o Chiquinho, creio que foi um acidente e não havia
prótese e nem conhecimento no Brasil para solucionar o “seu problema”. Para
ele não havia o que o impedisse de fazer
quase tudo, por exemplo, montar o cavalinho PIQUIRA. Era o cidadão de todos, por
quê?
Chiquinho na sua modesta oficina fazia de tudo. Ele consertava relógios de
todos os tipos e marcas, de pulso, parede e carrilhão, não importava. Ele
consertava todos os tipos de rádios, o aparelho mais importante das residências
quando ainda não havia a geladeira, só as importadas, e mesmo assim só para
pouquíssimas famílias das cidades. Não se ouvia falar da Televisão, hoje há na
casa de qualquer cidadão, rico ou pobre.
Muito bem, o Chiquinho era o faz de
tudo para todos. Chiquinho consertava guarda-chuva quebrado, as sombrinhas
inseparáveis das madames, colocava alças nas latas de óleo e também nas latinhas
menores para servirem de utensílios de cozinha, pois não havia acontecido o
“advento do plástico”, nem da Petrobrás. Enfim, tudo era possível no pensamento
do Chiquinho. Pai de dois moleques espertos e também inteligentes, Antonio, o
Nico, é Fluminense e o Anselmo, o Miminho, é Flamenguista, pode? Mais tarde
veio a raspa do tacho, nossa queridinha Sandrinha.
O Chiquinho se virava, veja mais: representava “ O Jornal”
fazendo assinantes e os distribuía nas casas em sua volta dos Correios ou os
entregava em sua Oficina. Representava Companhias de Seguro. Naquele tempo a
mais conhecida era a Sul-América, fazendo seguro de vida para quem podia pagar,
recebia os prêmios e os remetia à capital. Chiquinho, com sua voz maravilhosa,
bem postada, tomava conta dos SERVIÇOS DE ALTO FALANTE A VOZ DE ROSAL.
Como
disse antes, não havia Televisão, as informações para o povão em geral eram
dadas através deste serviço, o Alto-falante. Comunicações de falecimento,
convite para enterro, missas, casamentos e felicitações de aniversários com
dedicação musical. Como eu gostava disso, aniversário para ir comer doces e
bolos das maravilhosas doceiras que havia em Rosal. Destaque para a minha mãe
de leite, Dona Lita, a prima Luzmar, dona do Bar, Tia Cota, Dona Júlia e muitas
e muitas outras.
No serviço de alto-falante se faziam dedicações anônimas de
moças e rapazes apaixonados, até o momento de se descobrirem e se enamorarem.
Seu Chiquinho era uma pessoa muitíssima especial, tinha o dom de fazer amizade,
da paciência e da boa vontade. Era
procurado por todos, sua porta mais parecia hoje com as do INSS. Eram
aconselhamentos, broncas nos pinguços e todo o tipo de informação que se queria,
era com ele e também com a sua maravilhosa, risonha, divertida e habilidosa,
sua esposa DONA AMÉLIA REZENDE NUNES.
Dona Amélia pegava até cobra pelo rabo,
não tinha medo, mas uma vez ela se deu mal, quase foi para COQUEIROS, como era
chamado o cemitério, nos limites de seu enorme quintal. Voltando ao nosso
personagem, o Chiquinho, ele também era
incumbido ou se oferecia sempre para soltar os fogos nas festividades
religiosas, políticas ou comemorativas. Querem mais? Pois é, o Chiquinho era árbitro de futebol, mesmo com sua perna de pau era esmerado e dedicado
PROFESSOR MUNICIPAL. Lecionava na escola da Água Limpa, fazenda de seu pai,
localizada na região chamada GURITA.
Como disse, Professor Municipal,
Chiquinho, infalivelmente, dia após dia, montava em seu cavalinho Piquira e ia
ao encontro de seus alunos, filhos de ruralistas ou colonos, todos para ele
eram só alunos. Levava a luz do saber, os bons costumes e os alienáveis
princípios de amor a Deus e à nossa Pátria, o Brasil, eis porque o cognominei
“O ANJO QUE ANDAVA A CAVALO”. Estava me esquecendo, o Senhor Chiquinho também
foi Vereador na Câmara Municipal de Bom Jesus do Itabapoana, com muita dignidade e desempenho, nos tempos em que se exercia a função sem remuneração, ao contrário, custeava a sua própria passagem, almoço etc. na sede
municipal. Hoje há recompensa e jetons garantidos por altos impostos e
royalties de petróleo às suas excelências, os edis.
Não poderia me esquecer: o Sr. Chiquinho também operava os
equipamentos do CINE ROSAL, com maestria e seletividade cinética. No salão do
cinema até pendurou uma cabeça artesanal de faroeste MONTE HALLE, meu herói,
presente que lhe dei.
Aqui se encerra a simplificada história desse
cidadão que nos faz mais feliz por tê-lo conhecido e com ele convivido.
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