ENTREVISTA HISTÓRICA COM A VIÚVA DO EX-GOVERNADOR ROBERTO SILVEIRA (2a. parte)
Ismélia Saad Silveira e a foto com Roberto Silveira na residência em Bom Jesus do Itabapoana |
O NORTE FLUMINENSE: Como foi seu encontro com Roberto Silveira?
ISMÉLIA SAAD SILVEIRA: Na minha adolescência, a casa de meus pais era onde hoje fica a residência da Alda, esposa do Joaquim Relojoeiro. A da família do Roberto ficava exatamente ao lado, onde agora está o escritório da AMPLA. Naquela época, era muito comum as famílias colocarem cadeiras na calçada para se relacionarem com os vizinhos. Frequentemente, meu pai e minha mãe conversavam com seu Boanerges e dona Biluca, pais do Roberto. Isso fazia parte da rotina deles.
Nesse tempo, Roberto tinha 23 anos, já era Deputado e morava em Niterói. Sempre que podia, vinha a Bom Jesus. Mas nunca coincidia de nos conhecermos porque eu estudava num internato de freiras em Campos e as minhas férias, que eram curtas, nunca coincidiam com as vindas dele. Mais tarde, porém, fui saber que dona Biluca ficava no ouvido dele dizendo para me namorar: “Nossa vizinha é gente boa”. Há até um ditado que eu não sei se é libanês ou brasileiro mas que talvez ilustre bem o pensamento tanto de meus pais quanto dos pais de Roberto: “Case sua filha com o filho do vizinho”. Acabou acontecendo isso.
Fui conhecer Roberto num baile da Rainha da Festa de Agosto, no antigo Colégio Pereira Passos, que hoje leva o nome dele. Lá pelo meio do baile, Roberto me tirou para dançar. Eu aceitei, claro. Enquanto dançávamos ele me perguntou: “Quantos anos você tem?”. Eu disse: “Dezenove”. “Você tem namorado?”. “Não”. “Então eu vou pedir a seu pai para te namorar”. “Pelo amor de Deus, não. Papai jamais vai deixar”.
Pouco tempo depois, Roberto encontrou-se comigo na Praça e, sem eu perceber, fomos conversando até minha casa. Meu pai estava na porta. Morri de medo. Mas ele falou: ”Dr. Roberto, vamos conversar”. Claro que papai notou que havia algo entre nós.
Começamos a namorar e Roberto queria casar logo porque, naquela época, levava-se um dia inteiro de viagem de Niterói a Bom Jesus. Namorar muito tempo era uma dificuldade. Mas a minha família estava construindo a casa na Praça Governador Portela e eu achava que deveríamos esperar o término da obra para nos casarmos.
Roberto costumava mandar cartas para mim, através da Déia Tavares, que era agente dos Correios. Ela recebia as cartas e as repassava para mim. Quando chegou a primeira, pedi à tia Alvina, irmã de mamãe, que a respondesse. Alguns dias depois de enviar a carta, recebi a resposta de Roberto que escreveu: “Gostei muito da sua carta, mas gostaria que, da próxima vez, você mesma escrevesse”. Também para falarmos ao telefone, tínhamos de utilizar os serviços do posto telefônico da Inah Borges, com hora marcada. Por exemplo: “a ligação será dentro de dois dias às 7h”.
Antes de Roberto pedir minha mão, seu Boanerges foi lá em casa conversar com papai. No dia em que ficamos noivos, mamãe serviu para todos uma taça de guaraná e um bombom “Sonho de Valsa”, que era o favorito de seu Boanerges.
Quando nos casamos, em 1951, a recepção foi no edifício Monte Líbano, recém construído. Chovia tanto que não foi possível o fotógrafo do Rio de Janeiro chegar a tempo. Este é o motivo porque não temos fotos da cerimônia e da festa. Restou apenas um pequeno filme feito pelo Badger. De qualquer maneira, o dia foi muito especial, apesar da chuva. E eu até hoje não sei como dona Alzira e o comandante Amaral Peixoto, que eram nossos padrinhos, conseguiram chegar a tempo.
Ismélia Silveira e Roberto Silveira (do livro ROBERTO SILVEIRA, A PEDRA E O FOGO, de José Sérgio Rocha) |
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