MORIBUNDA
Publicada no jornal Itabapoana em 08/08/1906
Quem a
conhece? Quem dirá que outrora
Foi um
primor de graça e de candura?
Cheia de
vida, cheia de frescura,
e tão
desfeita e esmorecida agora!...
Parece
aquela flor que à luz da aurora
E ao
sorrir da manhã serena e pura
A fronte
inclina para a terra dura,
Murcha,
definha, abrocha-se e descora.
Perto lhe
vem os últimos momentos;
Vai
desprender-se a divinal essência
Do débil
organismo em ritmos lentos.
Olhos que
a vistes rindo na inocência
Que
lágrimas tereis, em vãos lamentos,
Para
chorar tão longa e triste ausência?!...
31/07/1906
MORTA
Publicada no jornal Itabapoana em 15/08/1906
E
ausentou-se!...já corre o pranto triste
Sobre o
gélido invólucro sem vida
Ei-lo
como uma pétala caída
de pobre
flor que solitária existe.
E tu,
filha do céu, que ao céu subiste
Sempre o
verás na fúnebre jazida
Como
relíquia sacra ao pó volvida,
Venerada
por nós, a quem fugiste.
Bela
chamou-te quem te viu as graças
Boa quem
viu segredos de tua alma,
e santa o
esposo que no céu abraças.
Menos
punge esta dor que não acalma
Menos
sentimos amargo as taças
Que na
terra e no céu tens linda palma.
04/08/1906
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Poesia de Padre Mello escrita em janeiro de 1902, dedicada ao português Manoel Antônio de Azevedo Mattos e sua esposaTereza de Azevedo Mattos, após o falecimento de sua filha Inhá (Maria Thereza de Azevedo Mattos)
CRIANÇAS
Quando
vos vejo, crianças
cantar,
pular e sorrir
nos
ombros soltas as tranças,
fitas no
chão a cair;
Quando
vos vejo contentes
sem
sombra de algum pesar,
sem
saudades de ausentes,
sem os
cuidados do lar;
Quando
vos vejo o olhar doce
em
qualquer um que mirais
como se o
mundo só fosse
o que vós
sois e não mais;
Então me
lembra, crianças;
que já
fui o que vós sois,
e que ao
tombar de esperanças
sereis o
que eu sou... depois!
ALGUMAS CANTIGAS SOLTAS
O sol também sede,
também nos merece dó
bebeu a água da lama
e a lama tornou-se pó.
X X X
Eu fui colher saudades
Onde saudades plantei.
Saudades trouxe comigo,
Saudades por lá deixei.
X X X
Quem teve amores ao longe
Teve saudades ao pé;
Os olhos são regadores,
Se o amor falso não é.
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MORRER SONHANDO
Cedo, bem
cedo, perderei a vida,
planta
ferida no mimoso pé.
Teu
desengano perecer me ordena,
na idade
plena de esperança e fé.
Porém a
morte me é suave e doce
como se
fosse uma ilusão de amor;
embora eu
sinta que uma luz se apaga
outra se
afaga de eternal fulgor.
Morrer
sonhando! Como é doce a morte!
Que vale
a sorte que esta vida tem?!
A vida é
sempre uma fugaz mentira,
a morte
aspira a realidade além.
Morre
este corpo de servil matéria.
Baixa á
miséria de funéreo pó,
porem
minha alma sempre viva sonha
vida
risonha; não mereço dó.
Beijo-te
a mão que me assassina e creio
que ela
me veio libertar ao fim.
Morrer
sonhando é desperta na glória,
eis a
vitória. Morrerei assim.
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