sábado, 8 de setembro de 2018

NÃO HÁ VAGAS

                             Joel Boechat

                                           
                   Cantinho de minhas poesias e devaneios

                                           
   Literatura de cordel (é geralmente longa;
                                                Não aperte 'curtir' se não pôde ler toda)


                                       # No sertão do Ceará,
                                           a sêca, sob um Sol inclemente,
                                           A terra dura rachada,
                                           Nenhuma gotinha de água
                                           Muita enxada enferrujada
                                           Nada para se cultivar..
                                           Nao tem grão para se plantar
                                           Fome, dor,  chôro  ... Vamos rezar!

                                           Os "ói" dos  caboré razos d'água
                                           São os espelhos de nossas mágoas
                                           Nosso consolo  ?  ...... O Luar

Severino José da Silva
Mais  conhecido por Bíu
No Sertão do Ceará
Muitas vezes dormia com fome
Nem macaxeira ,  cuscuz e inhame
Botava no prato ....

Nem um pedaço de cará
Nem um "mói" de  coentro
Que é prás criança sobrá....
E entonce a fome matá..

As "vez" conseguia uns três litros de farinha
Umas lasquinhas de gordura do charque
Que os rico, quando comprava ,
Mandava  da carne arrancá

A farinha , era pra sua nêga Rosinha...
Fazê farofa e, com resto da farinha e  goma
O mingau dos canenguim prepará ...

Leite, graças a Deus, não era questão
Tinha a cabra Margarida
Que ja estava parida
Mesmo com uma teta ferida
O leite que ela dava
Enchia um canecão...

O Biu um dia ouviu dizer
Que lá na cidade de
 " Sum Paulo "
Maior cidade  do Brasil
Vaga era o que sobrava
Nas obras de construção civil

Serralheiro, carpinteiro
Apontador, ladrilheiro
E auxiliar de pedreiro

Vendeu umas " traia"  que ainda tinha
Deixou quase  "Mil contos"" com Rosinha
E umas compra de carne de sol e farinha.

Podi deixá,  minha muié
Que até o mes de agosto
Aí , se Deus. , nosso Senhor quisé   
Te mando umas coisinha
E o dinheiro que eu pudé ...

La chegando,
foi a uns prédios em construção
Só via as placas de latão
Que com dificuldade soletrava
° NÃO HÁ VAGAS "
Foi grande a desolação...

Desespero,  frio e a garoa
Foi-se o resto do dinheiro
Não sobrou nem pra comprá
Um pãozinho ou uma broa...

Um cabra que tinha ido na mesma  situação
deu um gole de pinga
Pra Biu  se sentir aquecido
E a cama que fez para os dois
Pedaços de papelão

Conseguiu no outro dia
Um resto restaurante
Que ia ser jogado fora
Recebeu em boa hora

Maa, pro café e jantar
Só um pedaço de pão
Que conseguiu guardar
no bolso do seu calção ...

Mais uma dóse de cachaça
Que  com  choque térmico do frio
daquele frio que racha
Acelerou sua morte..

A famía la nu Norte
Dele num teve mais " nutiça"
Como não tinham mais nada
Ficaram na má sorte,  na  "mundíça"

Permita Senhor  ! Meu Deus.
Depois que passar essa crise
Q qual arrasou  o Brasil
Tenha alguém la de "Sum Paulo"

Que a outros  Biu avise
Que botaram novas placas
Na " tar" da construção civil

E, em letras garrafais
Os  Biu possam soletrar
Vagas pra serralheiro
E, auxiliar de pedreiro

Mesmo com pouca leitura
Muito dificil e indecisa
Encontrem o verso da placa
Onde se leia ...  PRECISA...

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