segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Lições olímpicas

 


Ataualpa A. P. Filho

Superação. A vitória começa dentro de nós: vencer os medos, romper barreiras, ultrapassar obstáculos, não se deixar abater pelas dificuldades. A conquista de uma medalha em uma competição olímpica, às vezes, expõe algo que vai além do que é colocado em disputa. E o brilho da medalha aumenta quando se tem conhecimento das adversidades superadas para chegar ao pódio. 

Na olimpíada da vida, as competições são diárias. Vencer os obstáculos do dia a dia é uma façanha épica. A luta pelo pão de cada dia está na maratona da sobrevivência. Vencer a fome é um desafio que exige perseverança. Inegavelmente, o primeiro desafio é sobreviver.

Ninguém chega a uma competição olímpica sem disciplina, sem treinamento, sem renúncias, sem metas a cumprir. Por essa razão, é que vários atletas precisam vencer primeiro a luta travada dentro de si para não desistir diante das dificuldades que sempre aparecem, principalmente nas modalidades esportivas que não atraem patrocinadores, nem do setor público, nem privado. Para ratificar isso, basta citar o local de treinamento improvisado em um terreno baldio, no período de lockdown, por Darlan Romani, que foi o quarto colocado no lançamento de peso nas Olimpíadas de Tóquio. Ele não trouxe nenhuma medalha, mas expôs no Japão um problema que afeta o atletismo brasileiro. Veio como herói. E o que ele superou para ter um rendimento olímpico exemplifica o que disse Richarlison, jogador do Everton, artilheiro da seleção brasileira, fez cinco gols em Tóquio, mas foi fortemente criticado por ter perdido um pênalti: 

“Passou da hora de nosso país entender que esporte não é só um cara chutando no gol ou enterrando a bola numa cesta: é bem-estar, saúde, disciplina e segurança. Nós levamos o nome do nosso país ao mais alto nível com muito orgulho, geramos exposição e rendimentos, além de representar nossa gente e nossa bandeira. Então, nada mais justo do que haver um retorno mais significativo.”

Não tenho dúvida de que, pelo esporte, podemos afastar os jovens do mundo das drogas, da criminalidade e ainda podemos incentivá-los a ter um rendimento escolar satisfatório. É nesse trabalho de base que aposto todas as minhas fichas. É lindo ouvir o Hino Nacional, ver a nossa bandeira tremulando no centro do pódio. Mas para isso, há um árduo caminho a seguir. Não dá para ficar dependendo do acaso ou do esforço de um atleta que, pelos seus próprios recursos, luta solitário para subir ao pódio. E aqui mais uma vez uso as palavras do Richarlison:

“Acho que o momento é de começarmos a pensar em deixar para as futuras gerações um maior investimento em esporte, desde a escola até o profissional; e de melhorar as condições para que nossos atletas possam desempenhar o melhor possível e viver daquilo que amam fazer.”

Essa olimpíada também serviu para mostrar a importância dos projetos que são desenvolvidos nas comunidades periféricas para incentivar modalidades esportivas com intuito de atrair jovens que podem encontrar no esporte uma forma de dar sentido à vida. 

O “Baile de Favela” mostrou o valor “dessa gente bronzeada” que não desistiu de sonhar alto, rompendo as barreiras dos preconceitos. Rebeca Andrade bailou com ouro e prata e fez uma bela declaração de amor à mãe. Fato este que expõe um outro ponto que ficou bem explícito nessa olimpíada: a importância do apoio da família. Pai, mãe, avós, filhos, filhas foram citados em gestos explícitos de amor. 

O protagonismo feminino também foi ressaltado em Tóquio. A fadinha de 13 anos, Rayssa Leal, passeou com o seu skate em Tóquio, no street feminino, trouxe uma medalha de prata e voltou para a sala de aula em Imperatriz, no Maranhão. Hidilyn Diaz também deixou seu nome registrado no Japão. Foi a primeira a ganhar uma medalha de ouro na história das Filipinas. Fez por ser reconhecida como uma atleta de alto nível em seu país, quebrando as barreiras das discriminações.

O ouro compartilhado entre amigos também mereceu destaque. O italiano Gianmarco Tamberi, campeão olímpico em salto em altura, teve a companhia de Muatz Essa Barshim, do Qatar, no lugar mais alto do pódio. Em 109 anos, essa foi a primeira vez que dois atletas compartilham, no atletismo, uma medalha de ouro. Eram adversários; não, inimigos. A lealdade é uma virtude dos grandes atletas.


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