Joel Boechat
Cordel da " bôrsa famía"
Tem coisa mió que bão
Do que vivê no Sertão?
Terra é o que mais tem no Sertão
Num tem esse negócio de tempo
Bom ou ruim... não
Pode se prantá inhame, gerimum,
batata... doce, cará e aimpim...
Uns pé de couve, coentro, pimenta
de cheiro e uma horta de cebolinha
e alface...
É só prantá e esperá que logo nasce
Mói e revira a terra, bota um pouco
de esterco, espáia nela a semente
e réga diariamente...
Adispôis de algum tempo, a festança
Fartura pra encher a barriga
Do pai, da mãe, da sogra e das criança...
Óia só o que "diche" outro dia pra mim
o meu vizinho, seu Jose Joaquim..
-Eu heim, seus bôbo...Nem morto
Tô fora, nós tem borsa famía agora...
De tanto trabaiá, tô com os pé tronxo
E os dedo da mão tudo torto...
A gente ismagrece, ismorece
E fica que nem uma gia....
Agora, com a borsa famia,
tamo cum pôco mais de conforto..
Tomo uma pinga, acendo uma páia
Fico deitado na rede, ispiando
Os abestado que ainda tão trabaiando...
Tomo mais uma meiota, dou um trago
Cuspo no chão e passo o pé
E vou vivendo como Deus quizé...
Na Prefeitura, o prefeito Dr. Castro
Cadastrô todos amigo e parente
Pessoá que com ele trabáia
So adispois de fazê pra sua famía
o cadastro, foi que fez também
Pra gente...
Uma tuia de gente arrecramô
Dr. Castro, então uma ordem editô
Cadastrá, só quem ja tá
Esperando na fila bastante
Primeiro os velho, os tronxo
e a dispois as gestante...
Tomara que teja sobrando borsa
Por que, muié gestante
E o que mais tem no Sertão
A Muié tá sempre com um nos bucho
Um encangado nos quarto
Mais uns dois ou três pirráio no chão
Quanto mais tivé fio e fia
Mais ganha a borsa famía
Isso,é que e vidão
Ainda mais agora, como "diche" o
Presidente "Temi"
Precisa de arreformá a previdênça
Amanhã vai se vivê, até 140...
Eu beirando os 100 anos
Novinho da gôta e, ainda,
Cheio de paixão...
Rapái, tu pode fazé ideia?
todos dia da semana
Indo mais cedo pra cama
Pra "dá uns tapa na Véia"?
Tem coisa mió que bão
Do que, se vivê no Sertão?
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