domingo, 3 de março de 2019

Faleceu Ismael Borges de Alvarenga

Faleceu, hoje, em Itaperuna, nosso estimado amigo Ismael Borges de Alvarenga. A seguir, reproduzimos entrevista feita com ele pelo jornal O Norte Fluminense.


 
                   Ismael Borges de Alvarenga





  Ismael Borges de Alvarenga nasceu em Barra do Pirapetinga no dia 1º/09/1931. Filho de Otto Leite de Alvarenga e Maria Borges de Alvarenga, teve 8 irmãos: Daniel (falecido), Nair, Messias (falecido), Teresa, Noêmia, Luiz, Izaias e José.


Fazenda da Braúna em foto de 1940. Na parte de cima, Célia Alvarenga, prima de Ismael


Ainda criança, com cerca de nove anos, foi morar em Braúna, onde seu avô, Felicíssimo Leite Alvarenga - nascido em Miraí (MG) -  e sua avó Albertina Pereira Alvarenga - nascida em Cataguases  (MG) - possuíam uma fazenda. Nessa fazenda, acordava às 5 hroas, "fazia sol ou chuva", para ajudar seu pai nos afazeres do campo, como, por exemplo, no engenho de cana-e-açúcar, puxando cavalo para mover o mesmo, fazendo açúcar e rapadura, além de trabalhar na ordenha das vacas.

Ismael trabalhou ainda na fábrica de manteiga, fundada em 1910 por seu avô, Messias Borges Ribeiro. Com o falecimento deste, passou a trabalhar com seu tio Antônio José Borges, que assumiu a direção da fábrica.


 Fazenda da Barra, em 1948. À direita, a Fábrica de Manteiga fundada em 1910


                Ismael com 22 anos de idade


Bodas de Ferro dos pais de Ismael, no Abrigo dos Velhos, em 1992, celebrada por Pe. Francisco


Ismael reconhece que o fato de ter começado a trabalhar cedo, acabou trazendo um certo prejuízo à sua infância e a seus estudos, uma vez que a escola era longe e de difícil acesso. Antes de completar 18 anos, contudo, mudou-se para Bom Jesus, para prestar o serviço militar, indo morar na casa do seu irmão Daniel.

Sua intenção era fazer o serviço militar e trabalhar. Por ter pouco estudo e ser muito franzino, os obstáculos se avolumavam.

Mas Ismael possuía persistência e garra, e foi com essas qualidades que conseguiu um serviço na Empresa Brasil, trabalhando como frentista e lavador de carros. " Não foi nada fácil, também", exclama Ismael, que aponta que "Aurélio Sueth foi praticamente o meu anjo da guarda, me ajudou muito. Ele era contador da Empresa Brasil. Sabedor da minha pouca escolaridade e do meu enorme esforço, foi até à Gráfica Gutenberg e comprou uns cadernos para fazer caligrafia e contas. Com muita dedicação, fui melhorando meu modo de escrever".

Com o passar do tempo, e vendo o esforço de Ismael, Aurélio acabou promovendo-o para trabalhar no escritório da empresa, conferindo talões. Depois, trabalhou como trocador de ônibus. Ismael diz ser sempre grato a "Aurélio Sueth e Ademar Dias".

Sua fama de rapaz esforçado e trabalhador foi correndo de boca-a-boca.

Ismael foi apresentado, certo dia, a José Bastos ("um grande empreendeor, diga-se de passagem"), que fez a ele uma proposta irresistível na época. Mas, Nanadir, Alair e Toninho, da Empresa Brasil, quando souberam da situação chamou-o para conversar, pois não queriam que ele saísse da empresa, propondo-lhe um aumento de salário.

Dona Rosinha Tatagiba também chamou-o em particular pedindo que não saísse da empresa. Ela disse:  "Ismael, não saia, nós gostamos muito de você! Eu gostaria de saber quanto você quer ganhar para continuar conosco. Recordo-me que ela era muito carinhosa e atenciosa. Ela sempre me oferecia um saboroso lanche e tinha sempre uma palavra amiga! Isso não tem dinheiro que pague", diz Ismael.

Continua ele: "Meu pai sempre falava: gratidão custa pouco, mas vale muito! O tempo foi passando e, no dia 1o. de agosto de 1951, fui contratado por José Bastos Borges, passando a ser o primeiro empregado com carteira assinada das Organizações Borges". Quando a sociedade completou 70 anos, no ano passado, o Varejão entregou a Ismael uma placa de "agradecimento pela dedicação e exemplo". Segundo Ismael, "José Bastos era um homem visionário, foi o meu grande amigo. Aquele foi um período de muita aprendizagem ".

Como tudo na vida passa, seu irmão Daniel comprou um armazém e chamou-o para trabalhar com ele. Assim, trabalhou com seu irmão por três anos. Por fim, resolveu trabalhar por conta própria. "Foram outros tempos difíceis", ressalta Ismael, que comprou uma máquina de pilar arroz, mas não pôde dar prosseguimento a essa atividade pois era muito alérgico. Montou, então, uma fábrica de sabão que também não teve êxito. Como bom brasileiro, contudo, Ismael não desistia, não entregava os pontos à toa.

Um dia, resolveu procurar Geraldo do Anísio, seu afilhado de casamento, para trocar umas ideias com. "A partir desta conversa, ele sugeriu que eu fosse trabalhar com jóias, comercializando-as. Ubiracy, seu concunhado, comentou com seu irmão Jacy sobre sua nova atividade comercial e este lhe disse:  'Vou lhe dar um caratão do sr. Victor, um comerciante judeu, do Rio de Janeiro. Você o procura e usa o meu nome'". E assim fez. Ismael foi com s cara e coragem. Ficou maravilhado com tantas jóias bonitas e com a atenção recebida. "Sou muito grato ao Jacy por isso! Vendi jóias por um bom tempo, mas, depois, acabou se tornando uma atividade de alto risco e resolvi parar".

Posteriormente, prestou prova para se tornar corretor de imóveis. Foi aprovado e está nesta profissão há 38 anos, atuando, agora, com seu filho Ismael Júnior.

Durante esses anos de corretor de imóveis, paralelo a esta atividade, fez parte da direção do Hospital São Vicente de Paulo a partir de 1982, e é com muito orgulho que fala sobre o mesmo: "É como se fosse uma extensão de meu lar. Lá fiz muitos amigos, e, em especial, Moacyr Valinho, que foi o gerente,  e Maria Helena, responsável pelo setor de hotelaria. Ismael se recorda, também, dos médicos Dr Jota e Dr. Aloísio Iran, assim comos dos dirigentes do Centro Popular, Carlos Borges Garcia, Aurélio Damião, Quintino Carlos Vieira e Álvaro Moreira".

Quando Ismael assumiu a direção do Hospital, "o São Vicente não devia a ninguém, mas também não possuía crédito.Filinho da Caixa D'água era o único que vendia medicamentos para o Hospital. Ocorre que o Governo Federal destinou milhares de consultas, enquanto o Governo Estadual liberou centenas de AIHs. Darcy Coutinho, como secretário, e Paulinho Bousquet, na tesouraria, foram peças fundamentais para o Hospital, assim como o dr. Davson de Oliveira, diretor da área técnica. O Secretário Municipal de Saúde, dr. Agostinho Boechat, teve atuação determinante junto à Secretaria Estadual. Além disso, a Fundação Banco do Brasil, com o apoio de Cleber Coimbra, forneceu ao Hospital quase todos os equipamentos necessários. A UTI e a frente do Hospital foram construídos com recursos do próprio São Vicente de Paulo", assinala Ismael.


Com o apoio da população e dos governos das esferas  federal, estadual e municipal, o Hospital passou a ser referência na região.

Hoje, Ismael fica extremamente triste ao ver a situação do Hospital, "que foi um orgulho para nós bonjesuenses".

Em 1990, foi eleito vereador, realizando atuação importante em favor da sociedade, em especial na defesa do Abrigo José Lima, através do Centro Social Coração de Maria.

Ao final da entrevista, Ismael agradeceu "a Deus, por minha família, meus amigos e pela minha vida. Eu sempre falo que a minha infância foi muito sofrida, mas o principal não faltou, que foi o carinho dos meus pais e muita espiritualidade e respeito. Agradeço também à minha esposa Zélia, pessoa exemplar, trabalhadora e dedicada. Agradeço aos meus filhos Ismael Júnior, Claudia e Maria Lúcia, assim como a meus genros Adyr, Paulo César e a minha nora Irma Carla. Agradeço aos meus queridos netos: Paula, Natália, Laís, Marina, Aline, Luísa, Hugo e Pedro. Agradeço, por fim, a todos os meus inúmeros amigos, a quem envio o meu grande abraço".

A sociedade bonjesuense, contudo, é que é grata a Ismael Borges pelos inúmeros serviços a ela prestados e pelo exemplo de vida que dá às novas gerações.


 Homenagem do Varejão a Ismael: Ouro da Casa


O NORTE FLUMINENSE MANIFESTA OS SENTIMENTOS À FAMÍLIA ENLUTADA! QUE DEUS CONFORTE A TODOS!

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