quinta-feira, 11 de novembro de 2021

15 de novembro: 32 anos de saudades de Salim Darwich Tannus, autor do hino de Bom Jesus

  No dia 15 de novembro de 1989, falecia Salim Darwich Tannus, autor do hino de Bom Jesus. Segue matéria realizada por O Norte Fluminense, em 2021.



Salim Darwich Tannus

Dia 23 de maio, Salim Darwich Tannus, o autor da "Marcha a Bom Jesus", conhecida como o Hino de Bom Jesus, faria aniversário.

O Norte Fluminense publica, a seguir, texto originalmente publicado no livro BOM JESUS, LEMBRANÇAS E RECORDAÇÕES, de Helton de Oliveira Almeida e João Batista Ferreira Borges, editado pela Almeida Artes Gráficas em 2000.

Na sequência, publicamos entrevista exclusiva com Orlando Alves, conhecido como Orlando do Salim, falecido há 3 anos.  Ele relatou como Salim se inspirou para compor a canção clássica de nosso município.




ORLANDO DO SALIM: COMO SURGIU O HINO DE BOM JESUS


Orlando Alves, o Orlando do Salim



Orlando Alves nasceu no dia 8/6/1921, em Cordeiro (RJ). Completará, portanto, 95 anos de idade, no início do próximo mês.

É conhecido como Orlando do Salim, em decorrência da ligação que teve com Salim Tannus, filho do libanês Karin João, e autor da canção  "Marcha a Bom Jesus", conhecida como o Hino de Bom Jesus.

Orlando é filho de Sebastião Alves e Justina Alves, e teve  12 irmãos. Justino Alves, residente no Rio de Janeiro, é o único vivo.

Ele conta: "eu trabalhava na Fábrica de Tecidos Nossa Senhora da Piedade S.A. em Cordeiro, quando recebi a visita de minha cunhada Ana Pinto Alves, casada com seu irmão Holandês Alves. Estes moravam inicialmente em Porciúncula (RJ). Ocorre que Jorge Tannus, irmão de Salim Tannus, tinha contratado Holandês, que trabalhava em empresa estatal, para ser motorista de caminhão para transportar café em Bom Jesus do Itabapoana. Por este motivo, minha cunhada queria que eu fosse trabalhar com meu irmão.

Acabei acompanhando-o, após exercer um ano de trabalho na Fábrica de Tecidos.

Cheguei em Bom Jesus em 13/12/1950 e fui trabalhar nos armazéns de café de Karin João, conhecido como Quirino, pai de Salim Tannus. Ele possuía um armazém de em Bom Jesus do Norte (ES), próximo à rodoviária, e outro na avenida Padre Mello. Depois, passei a ser ajudante de caminhão e, finalmente, passei a ser motorista.

Casei-me com Maria Brandão e tive 5 filhos: Marcelena, Daysi, Orlando Filho, Laerte, Simone e uma adotiva, a Leila. Enviuvei em 2000.

Maria Brandão e Orlando na festa dos 80 anos
  
Maria Brandão e Orlando, na década de 1940

Segundo Orlando, "fui, por várias vezes, motorista do Monsenhor Francisco Apoliano, por determinação de Salim Tannus. Recordo-me que certa vez, Monsenhor Francisco recebera uma importante doação para o Abrigo dos Velhos, por parte de um empresário de Campos dos Goytacazes. Levei Monsenhor até lá, para concretizar a doação".

O neto Breno e Orlando



HISTÓRIAS DE KARIN JOÃO



Karin casou-se com Júlia e teve uma única filha: Dona Amélia. Esta casou-se, por sua vez, com Salim Tannus, e teve 7 filhos: Maura Júlia, Ângela, Regina,  dr. Gonzaga, falecido, Angélica, Elizabeth e Maria Amélia.

Recordo-me de duas passagens envolvendo o libanês Karin.

Uma dessas histórias contada a mim foi a seguinte:  quando Karin mascateava com Antônio Miguel, de Chave de Santa Maria (RJ), enfrentaram um tempo de chuva, quando anoitecia. Ambos estavam famintos e chegaram a um armazém que, contudo, não tinha comida, apenas carne-seca e outros itens. Observaram, contudo, que havia um saco cheio de pepinos. Resolveram, então, comprar alguns e, ali no armazém, rasparam a casca dos pepinos e passaram a comê-los com doses de cachaça. As pessoas ficaram admiradas e diziam que eles iriam morrer, porque pepino e cachaça seriam um veneno. Seja como for, continuaram a comer e acabaram dormindo com a roupa molhada no canto do armazém, com autorização do proprietário. No dia seguinte, quando acordaram, observaram que o armazém estava cheio de pessoas. Ele perguntou, então, ao dono do armazém: - Esse pessoal não trabalha não? - Eles trabalham sim, mas vieram aqui para ver se os turcos tinham morrido, finalizou o proprietário do armazém.

Outra passagem de Karin ocorreu no armazém de café em Bom Jesus do Norte. As sacas de café eram empilhadas, com cada pilha contendo cerca de 18 sacas. Certa vez, os meninos Gonzaga e Darwich (hoje, médico oftalmologista) foram ao armazém e começaram a brincar de super-homem pulando sobre as sacas de café. Karin, com aquele sotaque libanês, virou para mim e disse: - Orlando, tira esses meninos daqui e leve-os para casa, porque estão desarrumando as pilhas!

Em outra oportunidade, quando eu fazia um trabalho na casa de Karin, eu encerava o assoalho, que era de madeira e limpava toda a casa. Ao limpar por baixo da cama, observei que havia várias notas de dinheiro. Avisei dona Júlia, esposa de Karin, que disse: - Isso deve ser coisa das crianças ou do vento! 





COMO SURGIU O HINO DE BOM JESUS




Orlando conta como Salim Tannus compôs o Hino de Bom Jesus. "Certa vez, levei Salim para sua casa em Guarapari. Ele gostava de cantar durante as viagens. Após um período na praia capixaba, ao retornar de viagem, quando passava por Iconha, sua filha Maria Angélica, que tinha cerca de seis meses, passou a chorar. Salim disse, então, que a filha estava com saudade de Bom Jesus. A partir daí, teve uma inspiração e começou a cantar a letra inicial do que viria a ser o Hino de Bom Jesus"Oh, Bom Jesus, terra de hospitalidade, longe de ti, quase morro de saudade!..." Salim virou, então, para a esposa e disse- Anota aí, Amélia!Foi assim que Salim iniciou a composição da música".

A filha Simone e Orlando



OUTRAS HISTÓRIAS DE SALIM TANNUS


Certa vez, saímos por volta das 23 horas em direção a São José do Rio Preto (RJ). Salim foi dormindo no banco de trás. Após Sapucaia, nas imediações de Anta, o sono se abateu repentinamente sobre mim e vi uma estrada pequena como se fosse grande, e quase caí no precipício. Recuperei-me, contudo, a tempo. Enquanto isso, Salim continuava a dormir. Parei, então em um posto de gasolina próximo e dormi no carro. Pedi, então, ao funcionário do posto para me acordar em 30 minutos. Assim ocorreu. Foi o tempo necessário para eu me recompor. Quando recomecei a viagem, Salim acordou e me perguntou: - Você está com sono?  Eu disse que não. Ele replicou: - Vou cantar, então, para você não dormir no volante.

Salim costumava estar sempre se encontrar com o ex-prefeito Oliveiro Teixeira. Ambos apreciavam a música e estavam sempre entoando canções e compondo. Ambas as famílias são como se fossem uma só, até hoje.

Até hoje, quando vou comprar alguma coisa, fiado, peço para colocar em nome de Orlando do Salim, porque ninguém me conhece como Orlando Alves.

É com satisfação que tenho o reconhecimento dos filhos de Salim, que mantêm contato contínuo comigo, tratando-me com todo o carinho possível. 

Três gerações: Orlando, entre a filha Marcelena e a neta Clarisse



"MINHA MÃE ERA A CABEÇA DA FAMÍLIA"

Maria Angélica Quirino Tannus, em foto de 2002

Maria Angélica Quirino Tannus, filha de Salim Tannus, diz que " minha mãe Amélia era a cabeça da família. Ela possuía tino comercial e mandava na família, mas não se destacava  socialmente, porque mulher não podia aparecer. Mamãe estava no seio materno quando veio do Líbano para o Brasil. Ela nasceu no Rio de Janeiro no dia 12/03/1922. Meus avós maternos se chamavam Karin João e Júlia Habib. Meu avô, que era mascate, resolveu vir para Bom Jesus, porque na época aqui havia muito dinheiro por causa do café. Importante destacar a força de vontade de meu pai, pois resolveu cursar a Faculdade de Direito quando tinha 60 anos de idade. Concluiu o curso na FDCI, de Cachoeiro de Itapemirim (ES), e exerceu a profissão".


Em relação a Orlando, ela diz que "ele é nosso Pai PretoOrlando é tudo para nós. Foi ele quem nos ensinou  a andar de velocípede, de bicicleta, de carro, e até a nadar. Amo-o. Hoje, apenas eu e ele moramos aqui em Bom Jesus. Orlando era muito ligado a Gonzaga, meu falecido irmão."

Em relação ao Hino de Bom Jesus, ela se recorda que "meus pais diziam que a inspiração surgiu após eu chorar, quando era criança, numa viagem de volta de Guarapari (ES)".








MARCHA A BOM JESUS
(Hino de Bom Jesus)
Autor: Salim Darwich Tannus

Oh! Bom Jesus!
Terra de hospitalidade,
Longe de ti,
Quase morro de saudade!

Oh! Bom Jesus!
Terra de hospitalidade!...
Longe de ti, oh! Bom Jesus,
Morro de saudade!

Tens os montes verdejantes,
Lá no alto do Calvário,
Todos nós juntos, em prece,
Veneramos o Santuário.
Tua garota é formosa e gentil
Oh! Bom Jesus!
Pedaço do meu Brasil!

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