domingo, 15 de janeiro de 2023

Gilberto Figueiredo: "Bom Jesus teve o maior número de políticos cassados no Regime Militar" (Parte 1)

 

Gilberto Figueiredo: testemunha ocular de nossa História 


Gilberto Figueiredo, nascido em 6 de abril de 1942, no distrito de Rosal, constitui uma das testemunhas oculares mais importantes de nossa História.

Ele é filho do ex-prefeito Gauthier Figueiredo, morto tragicamente, no exercício do mandato, em um acidente aéreo ocorrido no dia 25 de fevereiro de 1960. Foi vereador e exerceu, por 6 anos, a titularidade da Secretaria de Administração, na época em que Paulo Portugal foi prefeito de nosso município.

A entrevista foi dividida em partes, que serão publicadas nas edições seguintes.

A entrevista 

Gilberto Figueiredo é filho do casal Gauthier Figueiredo e Guiomar Alt Figueiredo. Gauthier, por sua vez, era filho do português Guilherme Figueiredo e Gliselidis Figueiredo.  Teve vários filhos: Gilda, Gracila, Gilberto, Geisha, Glaucia, Giolanda, Gauthier e Guilherme. Enviuvou e casou-se com Isaurina Sousa Figueiredo, tendo os filhos Gilson, Genil (Cabo Lola), Guilherme, Gleidi e Gliselidis.

Gilberto estudou no Colégio Governador Roberto Silveira, antigo Pereira Passos. Depois, estudou no Colégio Rio Branco até a 4a série. Segundo ele, "o Dr Luciano Bastos nunca cobrou mensalidade minha e dos meus irmãos".

Passou a trabalhar na Gráfica Gutenberg, com 17 anos, onde fazia cobrança e levava documentos ao banco.

Posteriormente, ingressou no Tiro de Guerra. "Eu tive uma coisa em comum com Bolsonaro. Ele foi expulso do Exército e eu fui expulso do Tiro de Guerra. Minha expulsão se deu pelo seguinte motivo: saí de um baile no antigo Aero Clube e, como não dava tempo para ir à minha casa, fui, de terno, para o Tiro de Guerra e lá respondi à chamada, feita pelo atirador José Ronaldo do Canto Cyrillo. Essa situação fez com que eu fosse expulso do TG. Em 1962, contudo, servi ao Exército na Vila Militar chamada REI (Regimento Escola de Infantaria), no Rio de Janeiro, com capacidade para 5 mil homens. Fiquei por um ano, na função de motorista".

Continua Gilberto: "voltei a Bom Jesus, com emprego de motorista, na empresa Distribuidora União Ltda, de Luiz da Silva Teixeira e João Bousquet Jr. Depois, virei vendedor e procurador da empresa junto à fábrica Willys, posteriormente adquirida pela Ford.

"Fui, então, a São Paulo, a convite de José Ricardo Bousquet, trabalhar no Parque Anhembi, nos salões internacionais de carros e outros. O Parque era administrado pela família Bousquet (Gilberto e José Ricardo Bomeny Bousquet). Sucede que, lá, ocorreu uma pandemia, e o prédio onde eu morava ficou interditado. Tive, então, que retornar a Bom Jesus.

"Passei a trabalhar na Distribuidora União Ltda, cujos  proprietários eram Clério Lamônica, Elbio Tinoco Mathias e Gilson Figueiredo, entre outros.

"Em 1966, ingressei na política a convite de Luciano Bastos, para fundar o MDB. Fui lançado candidato a vereador pelo Luciano e eleito com 267 votos. Era muito voto na época. Tomei posse em 1967. Fui o mais novo vereador, na época, com 25 anos. E sou o mais novo vivo. O mais idoso vereador, vivo, é Carlos Alberto Pereira Pinto, irmão do Antônio Carlos Pereira Pinto Filho, que conta com 97 anos. Somos os dois únicos remanescentes daquele colegiado.

"Casei-me com Maria Ferreira Figueiredo, que era de Varre-Sai, em São Paulo, no próprio Parque Anhembi, num salão nobre, no dia 27 de maio de 1972.

"Tive três filhos: Lilia, nascida em São Paulo, Marili e José Eduardo, falecido com 1 ano e 8 meses, afogado num açude de propriedade do sogro, Roberto José Ferreira, em Varre-Sai.

"Minhas filhas são casadas, e me deram quatro netos:  Geovane Sadocci, Caio e Laura (Lilia) e Nicole Ferreira Figueiredo (Marili)".

Gilberto Figueiredo exerceu o cargo de Secretário Municipal de Administração no Governo Paulo Portugal por 6 anos, entre 1983 e 1989.

Segundo Gilberto, "na época dos Anos de Chumbo, eram dois os partidos existentes: o MDB e a ARENA, e não era possível falar qualquer coisa. As forças de repressão matavam estudantes e torturavam. Eu cheguei a levar livros de Balthasar Franco da Silva, chefe da Tipografia Irmãos Almeida, para esconder na Fazenda Monte Azul, em Rosal. Esses livros eram tidos como de linha comunista, e as pessoas costumavam fazer denúncias. Balthasar era contador e maçom.

"A situação era tão grave que, certa vez, saí de Bom Jesus vestido de padre, para esconder o deputado estadual José Augusto, que estava sendo procurado pela DOPS (Delegacia de Ordem Política e Social). Foi José Augusto quem discursou para o presidente João Goulart, quando este esteve em Bom Jesus, poucos dias antes do Golpe Militar. José Augusto estava em Bom Jesus, mas não sabia dirigir, e eu era motorista. Fui, então, levá-lo até São Pedro da Aldeia, na casa do Padre Aldo, uma espécie de Padre Mello daquele município".

De acordo com Gilberto, "Bom Jesus do Itabapoana foi o município que teve, proporcionalmente ao número de habitantes, o maior número de políticos cassados no Regime Militar, de 1964 até o ano de 1969.  Como salientou José Augusto Pereira das Neves, em importante artigo para O Norte Fluminense, 'em 1966, havíamos eleito a maior representação na Assembleia Legislativa' ".

O ex-governador Badger Silveira, foi um dos políticos bonjesuenses cassados pelo Regime Militar, no dia 1º de maio de 1964, através da Assembleia Legislativa


Gilberto menciona os políticos bonjesuenses cassados: "José Augusto Pereira das Neves, neto de Zezé Borges, e filho de Emanuel Pereira das Neves, primeiro juiz pretor de Bom Jesus; José Salim Saad, filho de Merhige Hanna Saad; Michel Salim Saad, duas vezes deputado estadual,  Antônio Carlos Pereira Pinto, deputado federal e o ex-governador Badger Silveira. Gostaria de mencionar, ainda, o nome de Eduardo Travassos, grande líder estudantil, de família tradicional de nosso município que chegou a ser perseguido no Regime Militar".


No ano de 1960, João Goulart esteve em Bom Jesus do Itabapoana participando da inauguração da Rua República do Líbano. Ao seu lado direito, o acompanhava o historiador Antônio Dutra, enquanto o deputado bonjesuense Tito Nunes, o Governador Roberto Silveira e Esio Bastos (ao fundo), o acompanhavam por seu lado esquerdo.





(continua)

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