Delton de Mattos, um dos gênios de nossa literatura |
Há cinco anos, teve início a saudade do bonjesuense Delton de Mattos, um dos gênios da literatura brasileira.
Filho de Mário Nunes da Silva e Pautilha Nunes de Mattos, nasceu na Serra do Tardin, no dia 20 de abril de 1925. Seus avós paternos foram Elias Nunes da Silva e Maria da Silveira Nunes. Os avós maternos, por sua vez, foram Porphirio Franca de Mattos e Etelvina de Mattos Picança.
Aos 12 anos, ingressou no Colégio Rio Branco, onde cursou o exame de Admissão.
Foi colaborador do jornal O Norte Fluminense, fundado por Ésio Bastos, no dia 25 de dezembro de 1946, desde o início das atividades deste.
Autor de vários livros, editou ainda obras preciosas de autores bonjesuenses e bonjesuistas, como Padre Mello, Octacílio de Aquino, Romeu Couto, Athos Fernandes e Antônio Dutra.
Foi um dos grandes intelectuais do Brasil, tendo sido o pioneiro nos estudos da Tradutologia.
Dennys Silva-Reis, de Brasília, da Universidade de Brasília, Mestre em Estudos da Tradução (POSTRAD) e doutorando em Literatura (POSLIT) pela Universidade de Brasília, tradutor e cronista em seu blog Historiografia da tradução no Brasil (http://historiografiadatraducaobr.blogspot.com.br). E-mail: reisdennys@gmail.com. Brasília, Brasil. salientou bem a importância de Delton de Mattos para as letras do país, como se segue.
Delton de Mattos - um pioneiro dos Estudos de Tradução |
"Atuou na universidade de Brasília como o pioneiro na formação do curso de Letras-Tradução. Todavia, ele é memorável por ter sido sua a iniciativa da publicação de 3 livros sobre tradutologia (talvez, a época da publicação, conceito ainda inexistente no Brasil):
Delton de Mattos (org.), A formação do tradutor em nível universitário.Horizonte, 1980.
Delton de Mattos (org..), Cultura e tradutologia. Thesaurus, 1983.
Delton de Mattos (org.), Estudos de tradutologia. Kontakt, 1981.
Somente pelos títulos do livros organizados podemos imaginar o quanto à época eles eram inovadores para a área de Letras e para os Estudos de Tradução.
Provavelmente, devem existir outros artigos e textos sobre o assunto de autoria de Delton Mattos. Uma pesquisa mais profunda sobre sua contribuição para os Estudos de Tradução no Brasil seria bem vinda.
Dennys Silva-Reis"
Em 2016, O Norte Fluminense publicou a seguinte matéria:
Delton de Mattos e a Panificadora Família Borges
Há cerca de 25 anos, Delton de Mattos, um dos gênios de nossa literatura, apontou, em uma de suas crônicas, que não encontrava em nosso município uma "casa de chá", cujo clima "aconchegante" propiciasse o encontro das pessoas.
Disse ele: "Não encontrei em Bom Jesus a possibilidade de tomar um chá, nos bares e restaurantes. Uma casa de chá é sempre um local aconchegante, que estimula a aproximação entre as pessoas, além de oferecer alternativa ao consumo exagerado da cafeína, tão nociva ao estômago e aos nervos " (1991) (publicado em "Só uma penca de bananas", 1994).
Muitos anos depois, a Panificadora Família Borges veio transformar em realidade o sonho de Delton de Mattos, estabelecendo em Bom Jesus, num prédio histórico de 1922, um local aconchegante que favoreceu o encontro não apenas das pessoas, mas de nossa história.
O Café Bistrô, que sucedeu à Panificadora Família Borges, constitui hoje um extraordinário local de encontro das pessoas e da história.
Delton de Mattos foi alvo de importante homenagem no Rio de Janeiro, como revela o texto a seguir.
GRANDE HOMENAGEM A DELTON DE MATTOS
Pelo Dr. Sebastião Freire
Foi realizada, no dia 09/11/2018, na capital do Estado, no colégio Maria Raythe, Tijuca, uma justíssima e grande homenagem ao ilustre e Eminente Bonjesuense – DELTON DE MATTOS.
O mega evento foi organizado por seu grande amigo e companheiro de trabalho, Dr. ROBERTO BENATHAR, a quem o cumprimentamos e aplaudimos em nome de todos os bonjesuenses e familiares do Dr. Delton de Mattos.
A justa homenagem foi em razão da profícua administração de DELTON DE MATTOS junto ao colégio Maria Raythe, onde o Autor da solenidade compilou uma extensa apostila com as realizações importantes do DELTON DE MATTTOS em prol da cultura científica do Brasil.
É importante ressaltar o valor de uma amizade que uniu DELTON e Dr. ROBERTO, que teve a gentileza de encaminhar dois exemplares de referida apostila, através do bonjesuense e ilustre Advogado Dr. JOÃO JOSÉ ASSAD, filho do saudoso Alexandre José Assad, que compareceu à Reunião de Homenagem, para ser entregue ao Poder Legislativo de Bom Jesus do Itabapoana e a outra para ser enviada aos familiares de DELTON DE MATTOS.
O Poder Legislativo de Bom Jesus do Itabapoana, que, embora convidado, não mandou representante, que na nossa ótica foi, no mínimo, decepcionante.
Parabenizamos o autor da solenidade, bem como ao Dr. JOÃO JOSÉ ASSAD, que está sempre atento ao que se diz respeito aos interesses de nossa Bom Jesus do Itabapoana-RJ.
No dia 3 de outubro de 2015, ocorreu uma noite memorável em homenagem a Delton de Mattos, conforme matéria de O Norte Fluminense que segue.
NOITE HISTÓRICA RESGATA GÊNIOS DA CULTURA BONJESUENSE
Ocorreu no dia 03 de outubro passado (2015), na Câmara Municipal, um dos maiores eventos culturais da região, em comemoração à implantação da Câmara de Vereadores, que sucedeu no dia 04 de outubro de 1947, após a nossa 2ª emancipação.
A solenidade foi organizada pelo advogado Sebastião Freire Rodrigues, um dos nomes mais respeitados nossa sociedade, que promoveu o lançamento de quatro livros de gênios da literatura bonjesuense: Padre Mello, Octacílio de Aquino, Romeu Couto e Athos Fernandes,editados por Delton de Mattos, outro monstro sagrado das nossas letras.
O salão da Câmara ficou lotado para a noite histórica
Este evento histórico, marco em nossa região, distribuiu gratuitamente 1.500 (mil e quinhentos) livros dos autores mencionados.
Na oportunidade, Sebastião Freire Rodrigues foi agraciado com a Medalha Tiradentes, a maior honraria concedida pelo estado do Rio de Janeiro, através da Assembleia Legislativa.
Dr. Sebastião Freire Rodrigues (centro), recebeu a Medalha Tiradentes, a maior honraria concedida pelo estado do Rio de Janeiro. À esquerda: Dra. Andreia Guimarães (representante do deputado estadual Marcus Vinícius), que entregou a honraria, Dra. Suzanyh Peres Veniali, Flavia Nunes, (filha do Dr. Sebastião). Dr. Sebastião Freire Rodrigues, Ledyr Nunes Rodrigues (esposa Dr. Sebastião) e Luciano Nunes (Presidente da Câmara Municipal de Bom Jesus)
O advogado Sebastião Rodrigues, quando foi procurador da Câmara de Vereadores, promoveu tratativas para a obtenção do apoio financeiro necessário para que Delton de Mattos pudesse publicar as obras que se basearam em textos extraídos do jornal A Voz do Povo, fundado por Osório Carneiro. Este jornal foi o repositório de alguns dos monstros sagrados da literatura bonjesuense, capitaneados por Padre Mello, o pai da cultura bonjesuense.
Delton de Mattos realizou as ricas pesquisas no jornal, contando com o apoio de dra. Nísia Campos, redatora de A Voz do Povo.
Mil e quinhentos livros estão sendo distribuídos gratuitamente para a sociedade bonjesuense
Na noite memorável, marcaram presença o consagrado Grupo Musical Amantes da Arte e a Lira Operária Bonjesuense, conhecida como A Furiosa.
O magistrado dr. Luiz Alberto Nunes da Silva discorreu sobre Octacilio de Aquino (ver discurso ao final), dra. Nísia Campos falou sobre a obra de Padre Mello, Maria Izabel Monteiro Nunes considerou sobre a obra de seu pai Athos Fernandes, dra. Suzanyh Péres Veniali referiu-se a Romeu Couto, representando Roulien Boechat, responsável pela Biblioteca Romeu Couto, de Bom Jesus do Norte (ES), dr. Ederaldo do Carmo, que foi o autor do prefácio do livro sobre Padre Mello, esmiuçou sobre Delton de Mattos, enquanto o desembargador Antonio Izaias da Costa Abreu falou sobre a vida de Octacílio de Aquino e sobre Delton de Mattos.
O advogado Sebastião Freire promoveu a entrega aos familiares de Delton de Mattos, de um Diploma de Mérito, como reconhecimento pelo trabalho em prol do resgate da História e Cultura de Bom Jesus.
Os vereadores também fizeram também a entrega de uma Moção de Aplausos e Louvor aos familiares de Delton de Mattos pelo seu trabalho realizado no Município de Bom Jesus e no Estado do Rio de Janeiro.
Na oportunidade, foi entregue à senhora Marlene Mattos, irmã de Delton de Mattos, cópia de uma das primeiras Atas de instalação da Câmara Municipal, ocorrido no dia 04 de outubro de 1947, onde seu pai, Mário Nunes, foi eleito pela primeira Câmara de Vereadores de Bom Jesus.
Utilizando a palavra, a esposa de Delton de Mattos, Iantes Mattos, visivelmente emocionada, agradeceu a todos pelas homenagens que receberam.
No final da Sessão, dra. Andreia de Oliveira Pádua, advogada militante da capital do Estado, entregou ao dr. Sebastião Rodrigues o Decreto da Assembleia Legislativa (RJ) que outorgou a ele, através do deputado Marcus Vinícius, a Medalha Tiradentes, maior Honraria do Estado do Rio de Janeiro.
Pode-se dizer que a noite histórica promovida pelo dr. Sebastião Freire Rodrigues teve a grandeza evocada pela figura de Tiradentes na medalha a ele outorgada: assim como o herói nacional, com sua luta, ajudou a criar as circunstâncias para a independência de nosso país, Sebastião Freire Rodrigues promoveu nesta noite memorável um evento libertário que estabeleceu as condições para o resgate do nosso passado grandioso também na área da cultura literária.
Em homenagem aos gênios bonjesuenses, O Norte Fluminense publica os seguintes textos:
"Padre Mello", de Athos Fernandes (poesia)
"A Lição de Ulisses", de Octacílio de Aquino (crônica)
"Flor de Luz", de Padre Mello (poesia)
"Uma recomendação de Octacílio de Aquino", de Delton de Mattos (crônica) e
"ABANDONO", de Elcio Xavier (poesia).
ATHOS FERNANDES
PADRE MELLO
O que vos poderei dizer do Padre Mello?
Certo que o conheci e com orgulho o digo,
pois dele recebi muito conselho amigo,
naquele jeito seu, cativante e singelo.
Recém-chegado aqui, trazia então comigo
no jovem coração ardente o nobre anelo
Queria ser poeta e erguer um templo ao belo
e ao sólio protetor vinha pedir abrigo.
Recebeu-me o velho, o sacerdote-artista.
Poliu meu estro inculto,abriu-meda alma a vista
em novas dimensões na língua portuguesa...
Pela vida exemplar do vigário e do esteta,
não sei qual o maior: se o padre, se o poeta,
entre os cultas a Deus e os cultos à beleza.
OCTACÍLIO DE AQUINO
A LIÇÃO DE ULISSES
Recordemos a admirável página de Eça, uma das mais de ouro entre os seus Contos.
Encontrava-se havia mais de sete anos, Ulisses, "o mais sutil dos homens", entre as magnificências de Ogigia, entregue à hospitalidade doce da ninfa Calipso, deusa e amante. Nada lhe faltava ali, onde tudo era deslumbramento e placidez, fartura e imortalidade certa.
Seus pensamentos, no entanto, voavam para Ítaca, onde havia deixado esposa e filho.
Uma tarde, ao cabo de uma dessas saudades longas em que, dia por dia, mergulhava o inconsolável guerreiro, desce à ilha encantadora, que o acolhera - após o naufrágio de sua grande nau, de proa rubra-, um deus, que o procurava. E o deus transmitiu a Calipso a decisão de Júpiter: deixasse voltar à pátria Ulisses o guerreador de Tróia.
A deusa obedeceu. Não podia senão obedecer. Mas, obedecendo, ainda insistia prometendo a Ulisses, para que ficasse, as armas extraordinárias que Vulcano mandaria especialmente forjar no ....
- Armas?- replicava o herói. Mas de que servem armas quando não há combates?
E, permitida a viagem de regresso, Ulisses derrubou essas árvores para uma jangada. E construiu a jangada. E pegou o instante da partida. Nunca - descreve o artista moroso - "nunca a ilha resplandecera com uma beleza tão serena, entre um mar tão azul, sob um céu tão macio". É, em meio a todo esse espetáculo de alegria e de suavidade, "tantos eram os frutos nos vergéis, e as espigas nas messes, que a ilha parecia ceder, afundada no mar, sob o peso da sua abundância!" Embora! O navegador ousado partiria mesmo...
A deusa, então, lançou ao herói o derradeiro e mais comovente apelo. Se lhe não fosse a esposa, a terna e tão lembrada Penélope, se não fosse o filho, o jovem e tão lembrado Telêmaco, ainda assim deixaria ele a ilha maravilhosa?
Sim, ainda assim Ulisses regressaria a Ítaca. Porque precisamente o que o fatigava em Ogigia era a perfeição extrema.
"Considera ó deusa, que na tua ilha nunca encontrei um charco; um tronco apodrecido; a carcassa dum bicho morto e coberto de moscas Zumbidoras. Ó deusa, há oito anos, oito anos terríveis, estou privado de ver o trabalho, o esforço, a luta e o sofrimento..."
Ah! que vontade, para o mortal glorioso, farto da paz Imensa da ilha sem defeitos, que vontade de "encontrar um corpo arquejante sob um fardo; dois bois fumegantes puxando um arado; homens que se injuriem na passagem de uma ponte; os braços suplicantes duma mãe que chora; um coxo, sobre a sua muleta, mendigando à porta das vilas!..."
E subia, torturadamente, o tom de seus queixumes. "Deusa, há oito anos que não olho para uma sepultura... Não Fosso mais com esta serenidade sublime! Toda a minha alma arde no desejo do que se deforma, e se suja, e se espedaça, e se corrompe..." Em Ítaca ele encontraria a fome e o desespero, o quadro triste da ignoralidade e da opressão, e, ao lado do poema incomparável da vida, quando há esse poema, toda a infinita amargura da torpeza humana...
Partia, enfim. Beijando-o, no minuto extremo, Calipso:
" - Quantos males te esperam ó desgraçado! Antes ficasses, para toda a imortalidade, na minha ilha perfeita, entre os meus braços perfeitos"...
Já Ulisses, porém, de pé no dorso da jangada, cortava as primeiras ondas do mar em que se espelhava o céu, voltando, assim, deliberadamente, "para os trabalhos, para as tormentas, para as misérias - para a delícia das coisas imperfeitas"...
E era isso, a desigualdade e o erro, era isso, a violência flagrante dos contrastes, isso, a mentira e as iniquidades dos homens e da sorte, mas isso que lhe desafiava o ideal de contribuir, lutando, pela verdade e pelo bem comum, era isso o que o seduzia na desditosa terra de seu berço, mas, também na terra que era tudo para o seu coração sonhador e de guerreiro...
Cada homem, dos que se formaram irresistivelmente para a luta franca, não reproduz, no quadro eterno as ambições e dos interesses, as ânsias e a atitude final do velho Ulisses?
Março de 1944
PADRE MELLO
FLOR DE LUZ
Há uma flor que desponta
De noite, na escuridão,
Uma flor que assim que nasce
Logo é flor sem ser botão
Flor que metálico fio
Em um momento produz,
Flor que o tato não encontra,
Flor do é ter, flor da luz.
Por pétalas tem mil raios,
Por seiva a eletricidade,
Por colora a chama viva,
Por perfume a claridade.
Flor que à noite a lua inveja
E que o sol invejaria
Se por ventura em seu trono
Pudesse vê-la de dia.
Mas nasce quando sol morre
E morre quando o sol nasce,
E se ressurge de dia
E onde o sol não transpasse
Vós que viveis nas montanhas,
Quereis a glória da luz?
Vinde passear à noite
Nas ruas de Bom Jesus.
DELTON DE MATTOS
Uma recomendação de Octacílio de Aquino
Ao mudar-me para São Paulo, em março de 1947, embora estivesse politicamente em posição antagônica à União Democrática Nacional (UDN) bonjesuense, a que pertencia Octacílio de Aquino, não tive dúvida em procurá-lo para despedir-me, pois minha admiração e respeito pela sua personalidade cultural pairavam acima de quaisquer eventuais divergências de ordem política. Pediu-me ele, naquela oportunidade, que fizesse o possível de entrar em contato com o escritor Monteiro Lobato, de quem era profundo admirador, já tendo mesmo escrito em A Voz do Povo sobre a sua obra "Urupês".
Inicialmente, tal aproximação parecia impossível, pois não podia imaginar de que maneira um obscuro e desconhecido bonjesuense, que ainda não tinha sequer iniciado os estudos do segundo grau, poderia ter a oportunidade de tão ousada aventura.
Mas na verdade, fazia eu tabula rasa de tudo que poderia acontecer na vida daquela grande metrópole e do poder aglutinador das suas realizações culturais, que sempre estiveram à disposição de qualquer forasteiro. Como tinha chegado em São Paulo depois de encerradas as matrículas no segundo grau, passei a freqüentar, desde o primeiro dia, a imensa biblioteca Mário de Andrade, que ficava à disposição do público nos sete dias da semana, isto até altas horas da noite, sem falar das constantes palestras literárias que se realizavam no seu majestoso auditório. Mas além disso, essa biblioteca era o principal ponto de encontro dos intelectuais de São Paulo e não demorou para que eu conhecesse ali, a romancista Rosália Simonian que era amiga de Monteiro Lobato e logo me levou à sua presença no apartamento em que ele residia ali bem perto.
Dessa maneira, foi surpreendentemente fácil cumprir a recomendação de Octacílio de Aquino, que entretanto, na sua proverbial modéstia, já tinha recebido do consagrado autor de "Urupês" palavras elogiosas, e até de agradecimento sobre apreciação crítica da sua citada obra.
Recentemente, chegou às minhas mãos, cópia de uma pequena carta escrita por Monteiro Lobato em 5.10.1943, dirigida ao seu amigo Bruno de Martino, então jornalista em Miracema (outra surpresa!), nos seguintes termos: "Em mãos sua carta de 29 setembro e o número de "A Voz do Povo", em que vem o seu nobre devaneio filosófico "Concepção Gratuita", que li com o prazer que me causam todas as coisas pensadas, e também o belo artigo de Octacílio de Aquino a meu respeito. Muita coisa vem aparecendo sobre o meu livro URUPÊS neste tempo de suas bodas de prata, mas o artigo de Octacílio de Aquino é dos que mais dizem e mais penetrantemente. Peço transmitir a ele o meu abraço de agradecimento. E vão aqui esses retratos, a única lembrança que posso mandar destes distintos amigos. Com a maior cordialidade, Monteiro Lobato". Bruno de Martino, que nos deixou o romance "Saias de Bronze", enviou cópia dessa carta ao seu amigo bonjesuense, com a seguinte observação: "Este é o meu presente de Natal e de Ano-Bom! Fraternalmente do seu Bruno de Martino".
Em maio de 1949, republicava eu na revista Alliance, de São Paulo, um artigo de Octacílio de Aquino, sob a forma de "carta" e que constitui um belo resumo já escrito a respeito da vida e obra de Monteiro Lobato. Esse artigo reaparecerá em breve no 4o volume da coleção "Série Literatura Bonjesuense". É só esperar.
11 de julho de 2004
ELCIO XAVIER
ABANDONO
Ah! que ânsia de ser rio ou cais,
de atingir num suspiro o voo
dos seres alvos de minha imaginação!
Que desejo de ver e abordar
nos meus sentimentos a rosa
ou as caravelas de outros mares
transportando ocasos de Maio!
Por que, ó ondas líquidas de nuvens
que transitais pelos meus olhos,
não trazeis ao meu corpo vossa alegria?
E vós, véus de seres distantes,
por que não vindes agitar
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