segunda-feira, 30 de junho de 2025

Mulheres do Café e a Expocafé/2025 – Protagonistas da Terra e da Palavra

 

Isabel Menezes, a Guardiã da Memória de Varre-Sai, brilhou no lançamento de seu mais novo livro: "Arábica"


Em Varre-Sai, onde as montanhas verdes se tingem de vermelho na época da panha do café, a mulher nunca caminhou atrás. Aqui, ela sempre esteve ao lado. Desde os tempos dos desbravadores portugueses e da grande leva de imigrantes italianos, passando pelas gerações que tomaram conta das terras com suor e fé, a presença feminina nas lavouras e nas decisões familiares nunca foi de sombra, mas de luz que clareia os caminhos do progresso.

É neste espírito que aconteceu a Expocafé/2025, uma celebração do grão que sustenta lares e da força que o colhe: a mulher. A feira, idealizada por Fábio Pimentel, ganhou vida com o apoio da Prefeitura de Varre-Sai, da Coopercanol, Sebrae, COMTUR, Emater/Rio e outros parceiros. Desde sua primeira edição em 2023, a Expocafé já trazia consigo um espaço especial para as mulheres do café. Em 2025, esse espaço não apenas cresceu, ele floresceu.

O estande da Coopercanol chamou atenção. Banners com imagens fortes e reais das "panhadeiras" de café decoravam o local, trazendo à tona o protagonismo feminino nas lavouras. Era mais que uma exposição, era um tributo. O novo projeto da Emater local e CONTUR começou a dar frutos visíveis: o reconhecimento público do valor à mulher no campo. E a cada ano, cresce a certeza: na próxima edição, vai faltar espaço para tanta história bonita.

Eu, com meus treze livros publicados, tive o privilégio de estar no estande das mulheres do café. Entre uma dedicatória e outra, colecionei histórias preciosas como os grãos de café, bebida que enche de aroma as mãos calejadas das produtoras.

Dona Creusa da Silva Borges, com um brilho sereno no olhar, me confidenciou:

"Tudo que eu tenho foi construído com lavoura de café. Nunca ninguém lá em casa teve emprego público. Sempre trabalhamos com café. Hoje temos nossa casa e até casa pra alugar."

Disse ainda, com uma nostalgia sincera, que se tivesse companhia, ainda voltaria à panha. Esse é o tipo de força que não se mede: se admira.

Conversei também com amiga professora, jovem empreendedora Clara Estefânia Muruci, representante da 5ª geração da família Muruci, dona do Grão 17, um café de nome curioso e nobre origem. Faz referência às peneiras que separam os grãos especiais. Ela e o esposo tocam o Sítio Grotas, em Santa Clara, Porciúncula, enquanto os filhos estudam na capital. Um elo entre passado e futuro, entre tradição e inovação.

Mais adiante, ouvi o relato emocionado de Isabel Grillo, professora e coordenadora pedagógica aposentada, hoje também produtora rural: "Tenho uma adega Zanganela Pegorer, e com o falecimento de meu pai herdei um pedacinho de terra na roça. Plantamos café. Este ano já colhemos café bebida e, se Deus quiser, ano que vem chegará ao mercado o Café D'Chalet do Sítio das Araucárias." Era visível o orgulho que transbordava em suas palavras.

Fechando com chave de ouro, conversei com Margarida Rodolphi Grilo, guardiã da marca Café Jacutinga, premiada e cheia de história. Contou sobre seus avós, que compraram um sítio por quatro contos de réis, economizados centavo por centavo sob o colchão. Sem casa, com um rancho de sapê, enfrentaram a vida com coragem, arrancando mudas de café da mata para formar o primeiro quadro de lavoura. "Minha avó dizia: pra sobreviver é o leite, mas pra levantar um lucro é o café. E até hoje é assim. O leite é o sustento do dia a dia, mas pra rasgar os boletos é o café." Palavras que resumem a alma da roça.

Assim, de história em história, fui recolhendo sementes para meus próximos livros. Porque minha editora, a Possideli, tem uma missão clara: "A arte em missão". Missão de cultivar a cultura, a religiosidade, a boa conduta e a memória das gerações que ergueram esse chão com fé e café.

A Expocafé/2025 não foi só uma feira. Foi um palco onde as verdadeiras estrelas brilharam: as mulheres do café. E ali, entre conversas e goles de café fresco, senti que a história de Varre-Sai é também escrita com mãos femininas, fortes e generosas, que semeiam futuro sobre as raízes do passado.

Isabel Cristina Menezes Degli Esposti é Professora e Historiadora












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