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Carolina Boechat |
Um rápido olhar por nossa Bom Jesus já define o progresso que chegou por aqui em um espaço curto de tempo e, se houve notável transformação para os residentes fixos e frequentadores habituais, imagino para aqueles que a visitam eventualmente, como tem ocorrido comigo nos últimos meses.
Afastei-me do convívio diário com a cidade em fins da década de 1970, quando acompanhei o fluxo migratório natural da época, repetido por anos e anos , por todos os jovens que se viam premidos pelo desejo de avançar nos estudos ou em busca de maiores chances no mercado de trabalho.
Durante alguns anos, me enquadrei na categoria dos frequentadores habituais, daqueles que não perdiam a chance de voltar e participar do convívio estreito com a família ou revisitar amigos queridos sempre que feriados e férias permitissem.
E não havia nada mais prazeroso do que sensação de estar em casa. Isto se traduzia, inclusive, no simples fato de passar o tempo sentada nos bancos da antiga praça, ainda cheia de vozes e rostos que me eram tão queridos, ouvindo o sino da igreja e sentindo a emocionante alegria das crianças vivendo a aventura de escalar os degraus da cachoeirinha. Saudade! Quem sobreviveu ao seu inexplicável desmonte sabe a falta que ela faz.
Até que um dia veio a pandemia e, como se não bastasse, simultâneas a ela, ocorrências pessoais me afastaram daqui durante quase cinco anos.
Quando voltei, no final de 2024, vi uma cidade bonita, pulsante de vida, culturalmente ativa e de ruas iluminadas que confundiam minhas memórias distorcidas, agora, pela realidade. Confesso que houve um impasse e a saudade doeu, mas passou logo; o passado seduz, mas o futuro é necessário.
E neste novo tempo, mudanças substanciais ocorreram na cidade. Um exemplo, ela agora se expande em inúmeras construções que visam a atender a necessidade de moradia de estudantes que vêm de todas as partes e há demanda para impulsionar comércio e serviços.
E meus sobrinhos e o sobrinho de minha amiga, além da neta de minha cunhada, cursam medicina; minha sobrinha-neta cursa psicologia e outros tantos e tantos jovens moradores do município não precisaram deixar suas raízes e sua família para vislumbrarem um futuro melhor que o de seus pais e com um nível de sacrifício e de custo bem menores aos enfrentados pelos jovens que os antecederam.
Estive na cidade nesses dias frios de julho, sentada no banco da praça em um final de tarde, quase noite, olhei para a igreja de torres imponentes na expectativa de ouvir os sinos metálicos e ancestrais . Adoro!
Enquanto espero, ameaço um diálogo com minha interlocutora invisível, mulher extraordinária com tendência a ser esquecida apesar de sua biografia exemplar.
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A História prioriza feitos masculinos, deixando de registrar a atuação feminina.
Lembro-me dela com muita admiração e apesar do lugar-comum, não entendo outra designação mais abrangente para descrevê-la em sua essência, ela era uma gigante pequenina. Quanta força e disposição para comandar uma escola democrática que a todos acolhia, talvez alguns dissessem que aquilo não era coisa de mulher. Imagina, se não!
Agora que, fisicamente, cresci um pouco mais do que ela, sem, contudo, pretender alcançá-la em sabedoria, generosidade e espiritualidade, é comum recordá-la em fatos da vida. Dentre eles, verbalizado sempre, a imensa vontade de trazer uma faculdade de medicina para Bom Jesus.
Quando falava deste desejo, ela parecia iluminar-se de energia positiva.
Demorou, mas veio!
Niterói, 06 de agosto de 2025
Carolina Boechat
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