Da Serie Entrevistas de O NORTE FLUMINENSE
Dr. Ayrthon Borges Seródio nasceu no dia 21/05/29, na Barra do Pirapetinga, distrito de Bom Jesus do Itabapoana.
Seu pai, Oliveiro Vieira Seródio, era proprietário rural e comerciante e sua mãe, Maria José Borges, "do lar". Em sua família não houve pessoas que o influenciaram no gosto pela literatura. No entanto, o fato é que desde os 13 anos de idade escrevia e declamava poesias.
Aprendeu a ler na Fazenda da Barra e como não tinha acesso a livros, iniciou a arte da leitura através da Bíblia que sua mãe possuía. Posteriormente, passou a adquirir obras de literatura que eram vendidas por Ésio Bastos na Gráfica Gutenberg.
Durante a infância estudou com Olga Ebendinger, na Barra. Depois, foi aluno de Amália Teixeira, cuja escola funcionava na parte alta do prédio da Praça que hoje tem o seu nome - "na parte baixa funcionava a alfaiataria de Melhim Chalhoub". Foi aluno ainda de Orlando Azevedo, no Instituto Euclides da Cunha, "localizado na rua do cemitério".
Quando jovem, foi amigo de Athos Fernandes, que era redator de A VOZ DO POVO, e também de Osório Carneiro, o diretor do jornal. "Tratei de Osório até sua morte", exclama Dr. Ayrthon. Com Athos Fernandes, recorda-se que passou a conviver com o poeta "desde quando ele mudou-se para Bom Jesus". Diz ele: "Toda a noite, eu, Athos e Otacílio de Aquino íamos para a praça Governador Portela e declamávamos poesia até às 23h". "Eu tinha 15 anos idade na época, e declamávamos poesias de autores nacionais, estrangeiros e locais". Na época, "os homens rodeavam a Praça por um lado, enquanto as mulheres rodeavam a mesma no sentido contrario". Observou, contudo que "quando moças bonitas passavam, os mestres entoavam as poesias com mais inspiração".
"Eu tinha um ano de idade quando Osório Carneiro fundou A VOZ DO POVO". Ele, assim como Athos Fernandes e Otacílio de Aquino foram as pessoas que influenciaram dr. Ayrthon na poesia. "Foi com eles que eu aprendi a fazer poesia parnasiana com versos alexandrinos".
Dr. Ayrthon estudou também no Colégio Rio Branco e se recorda da Dona Carmita, "austera, mas excelente diretora". Recorda-se ainda do Diretor Olívio Bastos e do Chefe de Discilina, "seu" Rozendo, que "era muito rigoroso". Nunca teve qualquer problema com os educadores. Estudou ainda no Colégio Municipal de Muqui (ES).
Foi, posteriormente, estudar Medicina na UFF (Universidade Federal Fluminense) em Niterói, ocasião em que lecionou no Colégio Santo Antônio, no Bairro Ponto Cem Réis, no Colégio Nilo Pessanha e no Colégio do Barreto. Formou-se médico em 1953, e tendo em vista o conhecimento e as qualidades que o distinguiram dos demais formandos, tornou-se Professor Assistente de Pediatria e Puericultura na própria UFF durante dois anos.
Atuou como médico em Nova Esperança, no Paraná, em 1954, exercendo igualmente o magistério naquele município. Posteriormente, atuou como médico em Anápolis (GO), em 1958, em São José do Rio Preto (SP), no ano de 1959, e em Juiz de Fora (MG), em 1960. Retornou a Bom Jesus em 1964. Recorda-se que o Golpe Militar ocorreu quando ele estava na estrada, "vindo de mudança para Bom Jesus".
Aqui, além de médico, foi professor do Colégio Padre Mello por dois anos.
Até hoje exerce a direção da Clínica de Repouso Itabapoana, desde quando a mesma foi fundada na data de 31/03/1976. Especializou-se em Psiquiatria, Cardiologia, Clínica Médica, Erros na Medicina, Pediatria, Puericultura e Eletrocardiografia.
Além de expoente na medicina, consagrou-se como gênio da cultura, fundando diversas Academias de Letras. A Academia Bonjesuense de Letras foi fundada por ele, juntamente com Athos Fernandes e Otacílio de Aquino, sendo presidente da entidade por mais de 20 anos. Fundou o Instituto de Letras e Artes "Dr. José Ronaldo do Canto Cyrillo" (ILA), juntamente com a dra. Nísia Campos, e o Instituto de Letras e Artes de Carabuçu (ILAC) com o dr. Rubens Soares Oliveira. A Academia Calçadense de Letras foi também fundada por ele, juntamente com Edson Lobo, enquanto a Academia Itaperunense de Letras foi fundada por ele, juntamente com a Professora Flora Malta Carpi.
Exerceu a presidência do Conselho Municipal de Cultura de Bom Jesus do Itabapoana por 35 anos, com extensa relação de serviços prestados à cultura no município.
Publicou cerca de 24 (vinte e quatro) livros, que foram levados para várias partes do mundo ("Já levaram livros meus até para Jerusalém") e, como presidente do Conselho Municipal de Cultura, patrocinou a publicação de inúmeros livros de diversos escritores.
Dr. Ayrthon não tem preferência por alguma das poesias que escreveu, mas se recorda, com humor, de um episódio que foi retratado em um de seus versos: "há um poema falando sobre o Colégio Rio Branco. Foi dedicado a seu pai, que o publicou antes de morrer". Continua ele: "Neste soneto, refiro-me a um fato que ocorreu durante um desfile do educandário, na praça Governdor Portela, com cerca de trezentos alunos. A esposa de uma pessoa conhecida exclamou, na época, para o marido: 'veja, meu amor, nosso filho é o único que está com o passo certo!' ".
Possui uma contrariedade: "hoje deixou de haver poesia, no meu modo de entender". Continua ele: "hoje, a literatura está uma porcaria. Há poucos valores. A poesia foi desvalorizada. Não há rima, não há métrica, não há conteúdo", desabafa.
Há cerca de três anos, dr. Ayrthon Seródio não escreve mais. Uma doença impediu a coordenação de sua mão. "Fui acometido da Síndrome Neurológica de Dengue, que me impede de escrever. Tenho dormência nas mãos, assim como nas pernas".
Não obstante isso, dr. Ayrthon diz que se sente realizado, tanto na área da literatura ("já escrevi muito"), como médico. Um desejo que teria é o de ver a Academia Bonjesuense de Letras retornando suas atividades, uma vez que está desativada há vários anos.
Dr. Ayrthon possui dois filhos: Frederico, engenheiro, e Leonardo, também engenheiro, que reside em Boston (EUA) como "chefe de engenheiros de alto nível da empresa Arbor". Possui, ainda, duas netas: Rebeca (6 anos) e Leonardo (5 anos).
Maria Ângela Borges Guedes é sua esposa zelosa.
A mão que viveu para salvar vidas e que semeou cultura por onde passou, hoje está impossibilitada de atuar.
A mão do dr. Ayrthon, contudo, continua plenamente ativa através das mãos dos médicos que ajudou a formar e através das mãos dos novos poetas que surgiram inspirados em sua obra.
A mão do gênio da Barra é imortal.
NOTA
Para atender o desejo do dr. Ayrthon Seródio, o dr. Gino Bastos organizou uma reunião na residência do entrevistado, uma semana depois desta entrevista. Na reunião do dia 15 de outubro, sábado, compareceram Neumar Monteiro, filha de Athos Fernandes, a Diretora de Cultura, Martha Salim, o escritor Jailton da Penha e o poeta Paulo Xavier. Sob a direção do dr. Ayrthon Seródio, ficaram estabelecidas as diligências para que a Academia Bonjesuense de Letras possa retomar suas atividades em nosso município.
LIVROS ESCRITOS POR DR. AYRTHON BORGES SERÓDIO
1. Os Problemas Médico-Sanitários da Infância - 1958;
2. Anemias Ferroprivas da Infância - 1967;
3. Contribuição ao Estudo da Etiopatogenia e do Tratamento da Distrofia da Infância - 1962;
4. Antologia dos Poetas Bonjesuenses - Sonetos, 1976;
5. A Seara do Vento - Sonetos, 1977;
6. O Sacrifício Inútil - Sonetos, 1994;
7. A Figueira Assombrada - Sonetos, 1997;
8. O Estouro da Boiada - Sonetos, 1997;
9. À Sombra dos Ipês - Sonetos, 1998;
10. A Volta ao Passado - Sonetos, 1998;
11. A Festa de São João - Sonetos, 1999;
12. Menino de Rua - Sonetos, 1999;
13. O Filho Pródigo - Sonetos, 2000;
14. O Flagelo da Seca - Sonetos, 2000;
15. O Último Zumbi - Sonetos, 2001;
16. O Cheiro da Terra - Sonetos, 2001;
17. O Parque de Diversões - Sonetos, 2002;
18. O Último Adeus - Sonetos, 2003;
19. A Imagem do Inverno - Sonetos, 2003;
20. A Curva do Caminho - Sonetos, 2004;
21. A Eterna Primavera - Sonetos, 2004;
22. A Saga do Verão - Sonetos, 2005;
23. Eu e Tu (poesias);
24. Eu Estava Perdido (poesias).
SONETO
Academia Bonjesuense de Letras
No jubileu de prata a nossa Academia,
Que desde a fundação sempre foi atuante,
Revela com fervor, de forma relevante,
Nossa intensa criação na prosa ou na poesia.
No encontro semanal, presente a fidalguia,
Onde sempre a cultura é tema dominante,
Cada colega exibe a mostra edificante
De nova produção a toda a confraria.
Numa sessão solene empossando alguns membros,
A música e a poesia, em recital, relembro,
Bem como a saudação num discurso erudito.
E sendo um fundador, vinte anos presidente,
Orgulho que eu sinto é constante e crescente,
E exulto por nascer neste torrão bendito.
(do livro "O Cheiro da Terra")
(PUBLICADA NA EDIÇÃO DE 12 DE NOVEMBRO DE 2011)
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