ABDO EID NASSAR nasceu na cidade libanesa de Ramallah, distrito de Aley, província de Monte Líbano, no dia 23/05/1921.
Seu pai, Eid El Cury Nassar, praticava o comércio de carneiros guiando-os desde o Egito, passando pela Síria, até chegar ao Líbano. Além disso, era proprietário de área de terra onde produzia legumes, frutas, azeitona e azeite, assim como uva e vinho rosé.
Sua mãe, Shamuny Nassara, cuidava com todo o desvelo de Abdo e de seus outros dois irmãos: Eid Nassar Tannus, já falecido, e Michael Eid Nassar, atualmente residindo na França.
Adulto, Abdo estabeleceu uma espécie de lanchonete em Beirute.
Contudo, com a intensificação dos conflitos sociais, que fazia com que o comércio ficasse freqüentemente com portas fechadas, Abdo resolveu, no ano de 1952, tentar melhor sorte no Brasil, seguindo os passos de inúmeros de outros compatriotas.
FÁBRICA DE CHOCOLATE
Articulou, assim, com colegas, a implantação de uma fábrica de chocolate na cidade de São Paulo, a qual receberia o nome de "President". Partiram, assim, no navio "Providence", onde planejavam seguir a rota passando por Dacar, na África, e alcançando Marselha, na França.
Um fato inesperado, contudo, ocorreu quando desembarcaram em Dacar. Como a língua falada por Abdo e seus colegas era o francês, acabaram por confundir a informação verbal de que o navio partiria às dezoito horas, ao invés de oito horas, uma vez que as palavras eram pronunciadas de modo similar. Quando se deram conta do equívoco, o "Providence" já estava em alto-mar, levando todas as suas bagagens. Abdo e seus colegas permaneceram em Dacar apenas com a roupa do corpo e respectivos passaportes.
Graças, contudo, a amigos da cidade africana, foram acolhidos e, após muitas tratativas, conseguiram recursos para realizarem uma viagem de avião para o Rio de Janeiro, chegando na então capital brasileira três dias antes do navio e, assim, puderam dar continuidade a seus planos.
Ocorre que a alteração da situação econômica no Brasil acabou impedindo que a fábrica continuasse a ser construída. O resultado é que seus colegas desistiram da mesma e retornaram ao Líbano. Só Abdo permaneceu no Brasil, atraído pela "tranquilidade social do país", em relação à situação de sua terra de origem.
CHEGADA A BOM JESUS DO ITABAPOANA
Chegando ao Rio de Janeiro, Abdo veio a Bom Jesus do Itabapoana (RJ), onde casou-se em 1953 com Olívia Elias Abib Nassar. Posteriormente, mudou-se para Muriaé (MG), onde estabeleceu comércio de armazém até 1963, mudando-se posteriormente para Miracema (RJ) onde instalou um restaurante e uma lanchonete. Após sua aposentadoria, que ocorreu em 1983, retornou a Bom Jesus do Itabapoana onde vive até hoje, próximo dos seus três filhos: Abdo Eid Nassar, cirurgião dentista, Gisela Abdo Nassar Mattos, professora, e Antonio José Abdo Nassar, bancário, e dos netos.
Seu pai, Eid, chegou a conhecer, posteriormente, o Brasil, fixando residência na cidade mineira de Visconde do Rio Branco por cerca de 5 anos, onde procurou desenvolver a atividade de compra e venda de gado. Depois, preferiu retornar ao Líbano.
MENSAGEM
Como mensagem para as próximas gerações, Abdo exclama apenas três palavras: "educação, método e ética". Seu modo de ser e de viver encontra indiscutível paralelo com o Cedro, a majestosa árvore símbolo do Líbano. Como tantos libanesese que vieram para o Brasil, Abdo Abib Nassar trouxe consigo a dignidade e a grandiosidade típicas dos que souberam lutar e construir um mundo melhor.
JORGE ELIAS HABIB é descendente de libaneses, da região de Ramhalla, mesma de onde nasceu Abdo Eid Nassar, e reside com este e familiares, na rua Tenente José Teixeira, próximo à ponte da divisa com o Espírito Santo.
Jorge é filho de Elias Jorge Abib e Septe Sar Cury, que vieram do Líbano em 1910, estabelecendo residência inicialmente em Varre-Sai (RJ) e, em seguida, em Bom Jesus do Itabapoana.
LEMBRANÇAS
Seu pai sempre exerceu o ofício de comerciante. Fixou moradia inicialmente em Bom Jesus do Norte, na antiga Rua da Estação, para depois estabelecer-se na rua Tenente José Teixeira. O comércio era sempre exercido no mesmo prédio de sua residência. Seu pai faleceu em 31/05/1959, enquanto sua mãe faleceu no dia 06/02/1986.
Jorge se recorda de muitos fatos de Bom Jesus do Itabapoana. Lembra, por exemplo, que "na região, nos idos de 1958, havia quatro cinemas e dois clubes: a) AERO CLUB e b) PALACE CLUB, que constava com um bar na parte inferior e um salão na parte superior".
Lembra, ainda, com saudades, do dia 13 de agosto, quando, durante a Festa da cidade, ocorria o jogo Progresso x Olimpico, no Estádio Carlos Firmo, em Bom Jesus do Norte (ES) e no dia 15 de agosto ocorria a partida Olimpico x Progresso, no Estádio Coronel Fernando Lopes da Costa, em Bom Jesus do Itabapoana.
Rememorou ainda que eram quatro os times de futebol que possuíam vida ativa: Olimpico,Progresso,Fluminense e Atlético.
Jorge listou relação de libaneses e descendentes que contribuiram decisivamente para o progresso da região: "José Mansur, o líder da comunidade, Dahud, Jorge Abib, Merhige Hanna Assad, Elias Jorge Habib, Elias Chalhoub, Tebet Coury, Miguel Fed, Rachid, Salim Antonio, Miguel Antonio Fadel, Mingeul Antonio, Alexandre José Assad, José Nagib, irmão da esposa de José Mansur, Estefano Cury, Mansur Tabour, Padre Namtal Cury, Felilpe Luís e Abdo Assad, de Bom Jesus do Norte (ES)".
MENSAGEM
Deixou uma mensagem para as novas gerações: "Que os jovens de hoje cresçam em união, amor e fraternidade com os seus, para que sejam fortes e perseverantes em seus objetivos e tenham sucesso em suas vidas".
A figura meiga, bondosa e alegre de Jorge sobressai a cada gesto. Quando a reportagem de O NORTE FLUMINENSE o encontrou caminhando na calçada, próximo ao sinal da ponte, e sugeriu a realização da entrevista, ele estampou um sorriso e um imediato consentimento, levando-nos até à sua residência. No caminho, gracejou: "moro bem longe, do outro lado da ponte". Uma brincadeira que certamente se baseou no fato de ter residido em Bom Jesus do Norte. Com efeito, poucos passos adiante já estávamos em sua residência.
Pode-se dizer que a mescla da cultura libanesa com a brasileira foi capaz de gerar em Jorge Elias Abib um dos mais formosos Cedros legados pela colonização libanesa, que fincou raizes sólidas em nossa terra regadas pelas águas do rio Itabapoana.
A preocupação com a família sempre foi um ponto alto da cultura libanesa. Na foto, em pé: Antônio José Abdo Nassar, Gisela Abdo Nassar Motta, Abdo Eid Nassar Filho e o representante da 4a. geração, Vitor Nassar Motta. Sentados: Jorge Elias Habib, Olívia Elias Abib Nassar e Abdo Eid Nassar.
JOÃO SALIM MELHIM nasceu no Brasil no dia 18 de julho de 1930. Seus pais, Salim Hanna Saad e Tepet Chalhoub Saad, católicos ortodoxos, nasceram "na vila de Silvéia", na República do Líbano. Quando cresceram, foram viver na região de Ramallah, na província de Monte Líbano. Trabalharam na lavoura e possuíam criação de ovelhas, além de cultivarem trigo, oliveira, uva, pera, maçã, entre outros.
Salim Hanna Saad veio para o Brasil, fixando-se inicialmente em Varre-Sai, mas ficou pouco tempo com os irmãos Merihge Hanna Saad e Karin João. Por volta de 1920, vieram para Bom Jesus do Itabapoana e abriram uma loja de variedades, consistindo em armarinho, tecidos, calçados e mantimentos. Tal sociedade foi estabelecida onde hoje está localizada a residência de Joaquim Cezário, mais conhecido como Joaquim Relojoeiro.
Segundo João Salim, "os libaneses mascateavam, isto é, realizavam comércio ambulante, até se estabelecerem em prédio fixo". Posteriormente, os irmãos Karin João e Merhige Hanna Saad retiraram-se da sociedade e estabeleceram uma firma de compra e venda de café. Já Salim Hanna Saad abriu uma loja onde atualmente funciona a Foto Real. Em 1921, seu pai adquiriu uma casa na Rua Buarque de Nazareth, onde hoje está estabelecido o Magazine Salim Antonio.
Seu pai faleceu subitamente, por causa de um enfarte no dia 27 de setembro de 1953, enquanto sua mãe faleceu no dia 25 de março de 1996. Com a morte de seu pai, restou organizada uma sociedade entre os filhos José, Michel e João. Na época, Michel Saad fazia o curso de Direito em Niterói.
MICHEL SAAD
Uma das maiores alegrias de João Salim ocorreu quando Michel Saad foi eleito deputado estadual, com a maior votação dada a um político, ao mesmo tempo que Badger Silveira fora eleito governador. Recorda-se, com indignação, que Michel Saad fora, posteriormente cassado pelo SNI que o chamava de "Miguel", o que demonstraria que os militares nem conheciam o seu verdadeiro nome. É com orgulho ainda que se recorda de que foi Michel Saad o responsável pela vinda do Colégio Estadual Padre Mello para Bom Jesus, não obstante futuramente, o prédio atual do educandário tenha sido obra de Delton de Mattos. Em 1985, Michel e José sairam da sociedade, que continua até hoje nas pessoas do próprio João, sua esposa Edir e seu filho Roberto.
A REGIÃO CENTRAL E OUTRAS RECORDAÇÕES
João Salim se recorda de que a região onde está estabelecido seu comércio era antigamente o centro comercial do município com quatro bancos: "Banco do Brasil,Caixa Econômica Federal, União de Bancos e Banco Predial, sem falar no BANERJ,que ficava em região mais distante".
Com a construção da nova ponte, distante de onde ficava a ponte velha, e com o início das enchentes, os bancos passaram a mudar de endereço, trazendo uma diminuição na vida econômica da região outrora próspera.
Recorda-se, ainda, da epoca em que o Colégio Rio Branco passou por sérios problemas financeiros. Na ocasião, foi instalada uma junta governativa integrada por Olívio Bastos, José Mansur e José de Oliveira Borges. Segundo João Salim, "José Mansur apoiou com recursos financeiros e, depois,retirou-se juntamente com José de Oliveira Borges, permanecendo Olívio Bastos na administração e propriedade do educandário".
A lembrança de um fato pitoresco faz com que com um sorriso surja nos lábios. Era o tempo em que era estudante "meio rebelde". Dona Carmita, professora e diretora do Colégio Rio Branco obrigou-o, certa vez, a "copiar seis mil vezes a frase 'não devo ser indisciplinado ' ".
Outro fato está em sua memória. Por ocasião da Segunda Guerra Mundial, o então aluno Delton de Mattos resolveu comandar uma manifestação contra os alemães, apoiando uma passeata que chegou a passar em frente à residência de um alemão que residia em Bom Jesus.
Nossa reportagem solicitou que João Salim comentasse a respeito de alguns libaneses que se estabeleceram em Bom Jesus, e ele prontamente atendeu à solicitação.
MERHIGE HANNA SAAD
Preciosidade arquitetônica da Praça Governador Portela, em Bom Jesus do Itabapoana é legado libanês, por obra de Merhige Hanna Saad, na década d 1950 |
"Merhige ganhou muito dinheiro na função de comprador/vendedor de café", disse ele. Quanto a isso, João Salim acrescentou: "Eu me lembro de uma conversa entre tio Merihge e o sr. Osório Carneiro, dono do jornal A Voz do Povo, em 1947, na Praça Governador Portela. Estava sendo demolido um velho casarão onde funcionava um hotel, e tio Merhige disse a Osório que iria construir um cinema e seriam gastos três milhões de cruzeiros. Osório ponderou se não seria melhor que ele aplicasse este dinheiro na cidade do Rio de Janeiro. Ao que tio Merhige replicou: 'eu ganhei este dinheiro aqui em Bom Jesus e investirei este dinheiro aqui em Bom Jesus' "
Segundo ainda João Salim, "o prédio que fica próximo ao Cine Monte Líbano é histórico para Bom Jesus, porque foi, durante 8 (oito) dias, durante o ano de 1959, e outros 8 (oito) dias durante o ano de 1960, sede do Palácio do Governo do Estado do Rio de Janeiro. O Governador Roberto Silveira nestes dois anos transferiu a capital do Estado do Rio de Janeiro para Bom Jesus, com todo o secretariado e deputados, durante a Festa de Agosto".
JOSÉ MANSUR
José Mansur "foi o líder da colônia libanesa em Bom Jesus. Ajudou muito a desenvolver o município. Foi grande comerciante, comprador/vendedor de café e homem de grande visão. Como comerciante, foi correspondente do Banco do Brasil e ajudava muito os mais necessitados. Ajudou bastante o Hospital São Vicente de Paulo".
Segundo Joao Salim, "José Mansur trouxe diversas agências bancárias para Bom Jesus. A velha ponte de madeira era sempre por ele reparada, quando havia necessidade".
JOSÉ EID, ABDO NASSAR E OUTROS ILUSTRES LIBANESES
José Eid "foi um grande homem. Caridoso, tinha muita visão. Fazia parte de todo o movimento que procurava colocar Bom Jesus em direção ao progresso. Há uma rua, no Bairro Pimentel Marques, que leva seu nome". Ja Abdo Nassar é "o único libanês vivo em Bom Jesus".
João Salim se recorda ainda de outros insignes libaneses que vieram para Bom Jesus: "1) José Mansur e Bahia Mansur; 2. Nagib José e Helena; 3. Salim Hanna Saad e Tepet Chalhoub Saad; 4. Merhige Hanna Saad e Alzira Sauma Saad; 5. Karin João e Julia Habib; 6. Tannus Mansur Saad; 7. Elias Melhim Chalhoub; 8. Elias Nascif e Nabia Nascif; 9. Namem Melhim Chalhoub e Gandura Chalhoub; 10. Daud Jorge Habib e Réze Habib; 11. Salomão Paulo e Michel Paulo; 12. Tebete Cury; 13. Elias Jorge Abib e Tepet Habib; 14. Rachid Luiz (Felipe Luiz); 15. Miguel Féres; 16. Rachid Féres; 17. Cesar Felício; 18. Nametala Abib; 19. José Abib; 20. Miguel Antonio; 21. Miguel Fadel; 22. Mansur Jabor; 23. Naime José; 24. Naime Jabor; 25. Naime José; 26. Alexandre José Assad; 27. Liesse José Assad; 28. Salim Elias; 29. Adib Salim; 30. Pedro Waquim, Chicre Mansur, Mansur Chicre Mansur, José Said (Lé)".
MENSAGEM
João Salim possui 3 filhos: Rosângela Cavichini Salim Hertal,Carla Maria Cavichini Salim Silva e Roberto Cavichini Salim. Ao final da reportagem, deixou uma mensagem: " Peço a Deus que ilumine a todos nós, descendentes de libaneses, para continuarmos a seguir os exemplos dos mesmos, trabalhando para o bem juntamente com nossas famílias e a comunidade. Agradecemos também tudo a Deus, por estarmos vivendo neste país maravilhoso Brasil, e nesta cidade maravilhosa que é Bom Jesus".
Segundo o texto da proclamação da independência do Líbano em 1920, “um cedro sempre verde é um povo sempre jovem, apesar de um passado cruel. Embora tenha sido oprimido, jamais conquistado. O cedro é sinal de união. E pela união, pode enfrentar a todos os ataques”. O prédio onde está assentado atualmente o comércio Magazine Salim Antônio é um dos mais antigos de Bom Jesus. Inaugurado com o nome de Casa Syria, em 1923, passou depois a se chamar Casa Salim Antônio, antes de ser nominado de Magazine. Adentrar no comércio de João Salim é como fazer uma emocionante viagem a um passado que continua presente e aponta para o futuro. João Salim é o idealista e vencedor que faz questão de continuar sonhando, tal qual seus antepassados.
Você sabia?
1. O Estado (muhafazah, em árabe) de Monte Líbano é uma das seis províncias do Líbano.
As seis províncias são:
1. Beirute
2. Monte Líbano (capital: Baabda)
3. Líbano Setentrional (capital: Trípoli)
4. Beqaa (capital: Zahleé)
5. Nabatyeh
6. Líbano Meridional (capital: Sidon)
2. O cedro foi escolhido como emblema da bandeira libanesa por simbolizar força e imortalidade. Há árvores com 3 mil anos de idade e chegam a atingir até 40 metros de altura e 14 metros de diâmetro no tronco. A Associação dos Amigos da Floresta dos Cedros mantém o site http://www.cedarfriends.org/en/ e um dos jornais eletrônicos libaneses pode ser conferido no site http://www.alhayat-j.com.
Parabéns pela maravilhosa matéria. Admiração eterna de muitos de nós pelos imigrantes que ajudaram a fazer" Bom Jesus.
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