Ana Maria Silveira |
Roberto estava com hora marcada para uma audiência com o Governador do Estado do Rio, Ernâni do Amaral Peixoto. Sobrava tempo e ele resolveu parar numa banca de jornais, quando encontrou o primo Agnelo.
- Roberto, que bom lhe encontrar! Abri uma barbearia aqui mesmo no Centro e queria que você fosse lá para me prestigiar! todo mundo vai ficar sabendo que o Deputado Roberto Silveira cortou cabelo comigo!
- Já que é por aqui, pode ser agora.
Tenho um encontro com o Amaral, mas é mais tarde.
E os dois seguiram abraçados, conversando, rumo ao novo estabelecimento.
Roberto sentou-se no cadeirão e logo abriu o jornal, ávido pelas últimas notícias
Agnelo foi seguindo o ritual de corte de cabelo: abriu, sacudiu e colocou o pequeno lençol no pescoço do cliente
"VIP". Aspergiu
água nos cabelos, penteou
de cá para lá e de lá para cá algumas vezes e fez uns movimentos de
picote no ar, fazendo barulho com a tesoura de modo a angariar atenção.
Olhou para a rua, apontando Roberto para alguns vizinhos, que
reconhecendo o jovem deputado ficaram parados olhando,
curiosos.
Agnelo
começou o corte, envaidecido com a pequena plateia. Puxou uma conversa,
mas Roberto, mergulhado na leitura, pediu ao primo para que ficasse
calado,
até que ele se inteirasse das notícias. Agnelo, podando daqui e dali o cabelo do ilustre primo não acertava o corte de jeito nenhum. Como cortar de cima para baixo estava ficando meio esquisito, resolveu fazer o contrário, cortar de baixo para cima. Também não deu certo. Pegou a navalha e começou a raspar, para encobrir o estrago que estava fazendo.
Roberto, mergulhado nas folhas noticiosas, nada percebeu e só se lembrou que estava numa barbearia quando umas vozes soaram dizendo: - Pára, Agnelo! Você estragou o cabelo dele! - Ficou igual ao de Santo Antônio!
Roberto deu um pulo da cadeira e viu sua cabeça raspada até a altura das orelhas e, na cumeeira, um penacho cabeludo arredondado, como uma cuia. Não dispunha de mais tempo para ir a outro barbeiro.
Ao se encontrar com o Governador, tentou esconder o corte do cabelo puxando o colarinho bem para cima, sustentando-o com os ombros elevados.
Amaral em poucos minutos percebeu que alguma coisa estava errada. Disfarçando, tentou olhar Roberto pelo lado esquerdo e este se desviou cuidadosamente para a direita. Conversaram, conversaram e desta vez Amaral procurou olhar pela direita enquanto Roberto, ainda enrijecido, virava-se para a esquerda, escondendo a parte pelada da cabeça.
- O que é isso, Roberto? perguntou o governador. Roberto relaxou os braços, o colarinho desceu e ficou à mostra o seu cabelo arruinado pelo primo. Acabaram rindo da situação. Meses mais tarde souberam que a barbearia havia sido totalmente destruída por um cliente, injuriado e menos complacente.
Roberto, mergulhado nas folhas noticiosas, nada percebeu e só se lembrou que estava numa barbearia quando umas vozes soaram dizendo: - Pára, Agnelo! Você estragou o cabelo dele! - Ficou igual ao de Santo Antônio!
Roberto deu um pulo da cadeira e viu sua cabeça raspada até a altura das orelhas e, na cumeeira, um penacho cabeludo arredondado, como uma cuia. Não dispunha de mais tempo para ir a outro barbeiro.
Ao se encontrar com o Governador, tentou esconder o corte do cabelo puxando o colarinho bem para cima, sustentando-o com os ombros elevados.
Amaral em poucos minutos percebeu que alguma coisa estava errada. Disfarçando, tentou olhar Roberto pelo lado esquerdo e este se desviou cuidadosamente para a direita. Conversaram, conversaram e desta vez Amaral procurou olhar pela direita enquanto Roberto, ainda enrijecido, virava-se para a esquerda, escondendo a parte pelada da cabeça.
- O que é isso, Roberto? perguntou o governador. Roberto relaxou os braços, o colarinho desceu e ficou à mostra o seu cabelo arruinado pelo primo. Acabaram rindo da situação. Meses mais tarde souberam que a barbearia havia sido totalmente destruída por um cliente, injuriado e menos complacente.
Ana Maria Silveira é filha do ex-governador Badger Silveira
Adorei o artigo... expressa de maneira cativante com leveza, simplicidade
ResponderExcluire um senso de humor deveras apreciado...
um abraço..
Ademir Viana (por e-mail, do Canadá)
Gostei de ler! Leveza necessária para cativar a nossa imaginação. Senti-me como se estivesse presente nesse acontecimento. Parabéns, Ana Maria!
ResponderExcluirO texto, desperta a nossa curiosidade e prende de forma encantadora a nossa atenção.
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