Maria Apparecida Dutra Viestel, filha do historiador Antônio Dutra |
Maria Apparecida Dutra Viestel, filha do historiador Antônio Dutra, e neta de Pedro Gonçalves da Silva, conhecido como Cel. Pedroca, o primeiro prefeito de Bom Jesus do Itabapoana por ocasião de sua 1ª emancipação ocorrida em 25/12/1890, viu com satisfação a publicação em O Norte Fluminense do artigo de seu pai sobre a medicina em Bom Jesus e que consta do livro "Páginas Memoráveis de Bom Jesus do Itabapoana", editado por Delton de Mattos, a partir de textos insertos no jornal A Voz do Povo.
Entre os médicos que frequentavam a famosa Farmácia Normal, estabelecida por seu avô, local de encontro dos intelectuais bonjesuenses, dona Maria Apparecida se recorda em especial de José Vieria Seródio: "era um sacerdote da medicina, possuía vocação e atendia as pessoas indistintamente, com competência e dedicação".
Padre Mello escreveu, em 1940, um poemeto intitulado "O Charlatão", dedicado aos médicos, e é possível que ele tenha se inspirado no referido esculápio para idealizar a personagem João. Disse o autor, em sua apresentação: "O protagonista do poema é o Doutor João que apresento como exemplar já no desempenho de sua missão de médico, já em suas relações sociais" (in Obras Selecionadas de Padre Mello, Editora O Norte Fluminense).
Segue o artigo do mestre.
A MEDICINA BONJESUENSE
Antônio Dutra
Talvez
por gozar sua população de muita saúde, Bom Jesus, que hoje ostenta magnífica
plêiade de esculápios, nos fins do século passado e princípios do atual esteve
muitos anos sem nenhum médico residente, enquanto todos os lugares vizinhos
como Calçado, Itaperuna, São Pedro, Mimoso e outros, contavam sempre com um e
às vezes mais. Por pequenez ou pobreza da população não seria, pois nossos
vizinhos deviam sofrer do mesmo mal e Bom Jesus em 1878 tinha uma população de
4 mil almas, com cento e muitos fazendeiros, 64 casas, 6 sobrados e várias
casas comerciais e exportava grande quantidade de produtos para o porto de
Limeira.
Quando
iniciei meu aprendizado de farmácia em 1911, a clínica era aqui exercida pelos
farmacêuticos Pedro Gonçalves da Silva, formado pela Faculdade Imperial de
Medicina, e Joaquim Lopes Moreira, prático licenciado. Só raríssimas vezes
chamava-se médico dos lugares vizinhos para ver algum doente, mesmo assim isto
não passava de um ou dois por ano. Os que e lembro ter vindo aqui algumas vezes
foram o Dr. Veloso, de São Pedro, Dr. Coelho dos Santos, de Mimoso, Dr. José
Dias Moreira, de Calçado, Dr. Senra, de Itaperuna e Dr. Sobral, de Campos. O
primeiro médico de que tenho noticia ter residido em Bom Jesus foi o Dr.
Antônio Terra Pereira, que vem mencionado o tal e como um dos 9 eleitores com
que contava a freguesia do Senhor Bom Jesus do itabapoana, município de Campos,
no "Almanaque Laemert", de 1878.
O
segundo cuja lembrança ainda era bem viva, foi o Dr. Leônidas Peixoto de Abreu
Lima, que provavelmente veio para cá em 1880, quando convidou ao Coronel
Pedroca, seu amigo, então recém-formado, para aqui se estabelecer com farmácia.
Viu bom médico e grande político, foi eleito deputado em 1892 e deve ter se
transferido para Niterói onde faleceu em 1903, Conservo dele uma receita datada
de Bom Jesus, 7 de outubro de 1888, que reproduzo aqui por ser curiosa:
"Sra.
Maria Justina do Amor Sagrado, para sua filha Ismênia.
Infusão
de tília - 150 gramas
Tintura
de digital - 1 grama
Antipirna
- 4 gramas
Alcoolatura
de Acônito - 1 grama
Bisulfato
de quinino - 1 grama
Xe. de diacódio - 30 gramas. Tome 1 colher de
chá de hora em hora. Abreu Lima".
Em
1906 instalou consultório neste arraial o Dr. Jovial Rezende, um dos
colaboradores do jornal "Itabapoana", de Sylvio Fontoura e em 1907
transferiu-se para o Estado de Minas, eu o conheci bem mais tarde no Rio como
sócio de uma drogaria. Em 1914, veio o Dr. Francisco Portela Santos que foi, se não
falha a memória, o primeiro presidente do "Ordem e Progresso F.C." e
que também não permaneceu por muito tempo.
Somente a partir de 1915, tivemos sempre médicos
residentes. Nesse ano instalou aqui seu consultório o Dr. Jeronymo Tavares,
ótimo médico, culto, inteligente e também político militante, foi deputado estadual
no Governo Sodré e chefiou a política do município de Itaperuna até sua morte
em de 1924, prestando assinalados serviços.
Em
1917 veio o Dr. Carlos de Abreu Lima, pernambucano, bom médico, bom cirurgião,
fez boa clinica, foi médico assistente de Chico Teixeira e quando este faleceu,
transferiu-se para o Rio de Janeiro. O ano de 1918 marcou também a vinda do Dr.
Columbino Teixeira, que podemos assim dizer, popularizou o médico entre nós.
Antes de ele chegar, a figura desse profissional era uma espécie de tabu, do
qual o nosso roceiro tinha medo.
Com sua simplicidade e seu espírito folgazão,
conquistou grande clientela e aqui permaneceu até sua morte, prestando
importantes serviços à nossa população em todos os setores em que militou. Em
1924, chegaram os Dr. Agenor de Barros e Francisco Tosta Melo, ambos muito
populares e humanitários, que aqui permaneceram bastante tempo. Em 1925, veio o
Dr. Abelardo Vasconcelos, ainda muito moço, mas bom médico e portador de
considerável cultura, estudioso, prosador fluente, bom conhecedor da língua
portuguesa, mas cuidadoso em demasia no seu uso, o que tornava sua prosa quase
impecável. Foi também Inspetor Federal do Colégio Rio Branco, a que prestou
relevantes serviços, tendo sido mais tarde transferido para Campos, onde passou
a residir e clinicar. Foi, no ano seguinte, eleito membro efetivo da Academia
Campista de Letras, com o voto de Sylvio Fontoura, que muito o admirava, Em
1925, vieram também o Dr. José de Oliveira Cunha que aqui ficou até 1928,
militando também no jornalismo ao lado do Padre Mello, como redator do jornal
"O Norte"; o Mário Vilhena, da Fundação Rokfeller e Dr. Arthur José
de Bastos que pouco permaneceu entre nós. Em 1926, estiveram aqui, com pouca
permanência, os Drs. Gastão Pereira da Silva, notável escritor da atualidade e
Aloísio Pinto da Luz, transferido logo depois para Calçado.
Este
Dr. Aloísio era filho do então Ministro da Marinha, mas miolo tempo até os
filhos de ministros que se formavam médicos eram obrigados a vir para o
interior cavar a vida.
Foi
ainda em 1926, que concluiu seu curso de medicina e instalou seu consultório em
Bom Jesus o Dr. César Ferolla. Este pregou bons serviços à nossa população como
médico, muito popular e caridoso, e também como político. Foi deputado estadual
à Assembléia Constituinte de 1934 e muito se bateu em prol da restauração de
nosso município. Como médico, o Dr. César Ferolla dava preferência especial ao
tratamento de crianças e embora não se dedicasse exclusivamente à pediatria,
publicou um livro com o título de "Pela felicidade dos filhos".
Em
1928, tivemos aqui o Dr. Domingos Azevedo, profissional já idoso, que ficou
pouco tempo em Bom Jesus e, em 1932, aqui chegou um médico ainda moço que se
tornou muito popular, pois além de bom clínico, era grande amigo dos
agricultores.
Até
adquiriu uma propriedade agrícola que visitava com frequência. Estou me
referindo ao Dr. Dirceu Cabral Henriques que permaneceu entre nós por mais de 5
lustros, prestando ótimos serviços, sobretudo na direção de nosso Hospital e do
Centro Pró-Melhoramentos de Bom Jesus.
O
ano de 1933 marcou um dos mais auspicioso acontecimento na crônica médica de
Bom Jesus: instalou aqui o seu consultório o Dr. José Vieira Seródio, médico humanitaríssimo,
fazendeiro, Subprefeito, vereador, deputado estadual, chefe do nosso Posto de
Saúde e do Hospital São Vicente de Paulo. E qualquer setor que tenha militado,
dispenso-me de descreve seus méritos, tão evidentes e conhecidos são eles e
transcendo o período que me propus a tratar.
Nos
últimos anos de nosso arraial ainda vieram nos tratar seu concurso os Drs.
Ademar Hooper Pinto, Evandro Pintos Domingues, Onofre Pereira de Mendonça,
Dirceu Bauer, todos com pouca permanência, e Dr. Sebastião Diniz Freitas, este
ilustre e humanitário clínico que por felicidade aqui permaneceu prestando à
nossa população inestimáveis serviços. Fica aqui um resumo da medicina em Bom
Jesus até a restauração do Município. A partir de então nosso corpo médico vem
crescendo sempre, em quantidade e qualidade, até chegarmos a esta magnífica
equipe composta dos ilustres Drs. José Vieira Seródio, Sebastião Diniz Freitas,
Waldir Nunes da Silva, Edu Baptista, César da Costa Abelha, Ruy Pimentel
Marques, Ayrton Borges Seródio, Ary Lima de Moraes, Lourival Costa, José Áreas
e Francisco Oliveira, digna e invejada mesmo pelos centros maiores. A partir da
restauração do Município de Bom Jesus, quem quiser conhecer a sua história tem
à disposição as coleções dos jornais "A Voz do Povo" e o "Norte
Fluminense", enquanto o período anterior, como já tive a oportunidade de
dizer, precisa merecer mais atenção de nossa parte, pois do contrário, dentro
de pouco tempo ninguém mais existirá que possa ter conhecimento.
Aqui cheguei( Bom Jesus do Itabapoana RJ ) com 3 anos , vindo meus pais e meus 4 irmãos . Meu pai João Tavares , minha mãe Benicia de Aguiar Tavares Vindos de Santana de Rosal distrito de Bom Jesus do Itabapoana. Nesta época havia DR: CESAR FEROLA , DR:SEBASTIÃO DINIS ,DR:jOSE Serodio, DR:Valdir Nunes da Silva, DR:ARISTIDES DE CALÇADO , depois veio DR:Edu Batista convivi com todos eles pois cuidavam de meu pai durante 10 anos,todos bons médicos . Obrigada, pelos cuidados com meu querido pai. Laurenice Tavares Ferreira
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