Saulo Soares |
Sabemos
que a memória não é feita somente de fatos, acontecimentos. Não. Tudo isso é
permeado, coberto e moído por sentimentos. Sentimentos que intensificam as
recordações e que as marcam, ás vezes de forma indelével, como fazem os
sacramentos na alma.
Não
conheci o Sr. Lao. O que dele sei, ouvi de seu filho, Cyro. Este foi uma das
crianças acolhidas por ele.
Creiam
que conheçam a passagem bíblica que nos diz: “... todo aquele que se tornou discípulo do Reino dos Céus é semelhante
a um pai de família que do seu tesouro tira coisas novas e velhas.”. (Mt
13,52). Pois bem: do tesouro de uma
“velha” e enferrujada lata de Cream
Crakers Aymoré, retirei, de uma missiva, o sentimento de uma profunda
admiração pelo Sr. Lao.
Numa
carta endereçada a Francisco Werdan, Cyro, filho do Sr. Lao, relata: “Fui doado quando tinha vinte e dois dias de
nascido e minha mãe estava quase morta com pneumonia dupla. Na roça, sem
médico, tratada apenas por um farmacêutico. Esta doação não me trouxe revolta.
Pelo contrário, enriqueceu-me em todos os sentidos. Passei a me orgulhar de
duas famílias: os Werdan e os Monteiro de Carvalho. E, no lugar de perder,
ganhei mais dois pais que, além de mim, criaram mais de dezesseis filhos dos
outros, quase todos pobres ou doentes. [...] E me fez respeitar cada vez
mais este casal que me adotou: Lao Monteiro de Carvalho e Maria Leite de
Carvalho.” Qual não foi minha surpresa, senhores, quando li a etimologia do
nome “Lao”: “Aquele que canta para
adormecer as crianças.” Mais de dezesseis... pensei.
Cyro contou-me que
o Sr. Lao “aposentava” – mesmo ainda com vigor e saúde - os animais que os
serviram na Chácara. Certa vez comprou um cavalo pelo quádruplo do preço (!)
somente para não vê-lo apanhar mais.
Enfim,
o Sr. Lao, juntamente com o seu amigo, Esio Bastos, foram parceiros na 1ª
Câmara de Vereadores de Bom Jesus e, desde a fundação (vejam só!) do nosso O
Norte Fluminense. O Sr. Cyro, por sua vez, também escreveu, por anos, no
importante e querido jornal.
Amigo
leitor, a partir de hoje, compartilharemos este espaço. Uma honra para mim!
Memórias e sentimentos, como disse... Sou orgulhoso de uma terra que não é
minha (permitam-me, por favor, tal ousadia!), mas que me deu dois grandes
homens honrados. Homens do norte fluminense, homens do O Norte Fluminense.
Meu
nome é Saulo Soares Monteiro de Carvalho, filho de Cyro Werdan Monteiro de
Carvalho e neto do Sr. Lao Monteiro de Carvalho.
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