Vânia Leite Fróes
Comemorar,
no seu sentido etimológico quer dizer co-memorar, isto é lembrar juntos. E é juntos
que recordamos com orgulho e uma boa dose de saudade dos irmãos Roberto e Badger
Silveira.
Nascidos
nesta cidade de Bom Jesus, numa das fronteiras-norte da Velha Província
Fluminense, evocam os nomes destes governadores, caras recordações até hoje presentes
em nossa terra. Muitas décadas se passaram, mas as obras e exemplos, como diziam
os artistas renascentistas, são para sempre.
Uma
primeira lembrança a evocar é o modelo de político orgulhoso de suas origens,
com fortes vínculos com a terra que representavam, cujos ideais prendiam-se ao
bem-comum mais que aos propósitos individuais, reforçando identidades citadinas
e regionais.
Foram
assim os nossos homenageados. Quase singelos em sua identidade
norte-fluminense, políticos vinculados às causas sociais que o velho PTB
endossava, tiveram um e outro o seu destino cortado muito cedo.
Roberto
conquistou-me ainda criança por sua simpatia.
Visitava por vezes minha casa, por mera amizade, sem qualquer interesse
político, onde meu pai, advogado e amigo da família Silveira, o recebia em
longas e intermináveis conversas. Era grande a sua simpatia, tanto que me levou
a fingir que votava. Ainda estava longe de ser eleitora, mas queria ter o gosto
de colocar a cédula com seu nome na urna mágica que dava a vitória aos
políticos.
A
roda do destino girou do lado errado, levando com ele muitas esperanças, mas
deixando entre nós a lembrança de sua jovialidade, de seu desejo de mudar o
mundo do velho coronelismo. Foi embora como um governador muito querido em
terras fluminenses.
Lembro-me
de Badger quando nos recebeu no Palácio do Ingá. Éramos normalistas
recém-formadas, premiadas no antigo Instituto de Educação de Niterói, tímidas
diante do governador. Foi carinhoso, quase paternal, convocando a todas nós a
exercermos nossa profissão com seriedade. Dito pelo governador, assumia um peso de
grande importância. Apontava caminhos e louvava o ofício para o qual nos
preparávamos.
Bons
tempos em que governadores valorizavam o professor e sua carreira. Bons tempos
em que políticos serviam de modelo para jovens iniciando sua profissão.
Difícil
dizer o mesmo hoje. Parece fora de moda construir memórias e exemplos nesta
contemporaneidade tão imediatista, cujo presente é a única referência possível.
Dura
decepção quando as portas do Palácio se fecharam para os jovens, para o povo e
para as utopias. Nosso governador eleito foi destituído. Os sonhos haviam
acabado. Os anos de chumbo chegavam, impondo o medo e o autoritarismo,
sufocando artistas e intelectuais, impondo a censura e os governadores
biônicos.
Hoje
resgatamos nossas lembranças nas justas medidas em que devem estar. Materializadas
em pedra e argila este memorial é um lugar de memória, que
presentifica merecidamente atos e feitos de nossos conterrâneos os irmãos
Roberto e Badger Silveira.
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