quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

OS CARNAVAIS DE BOM JESUS



Lenice Xavier
                                                               

A notícia alvissareira de que nosso tão ilustre conterrâneo Raul Travassos, atual Secretário de Cultura Municipal, iria revitalizar o carnaval da cidade, incentivou-me a pensar e relembrar do que vivi, assisti e das informações que tenho, no que se refere ao carnaval em nossa cidade.
No final da década de 60 (1968/69) surgiu o Bloco Carnavalesco Barra Pesada, ainda bem improvisado, com fantasias simples, mas de bom gosto e uma bateria bem afinada. Segundo sei, os idealizadores desse bloco teriam sido Jorge Falcão, entre outros, e meu irmão Samuel Caldeira Xavier. O bloco se concentrou, organizou-se e saiu da residência do casal Luiz Falcão e D. Edir Falcão, que muito apoio deram à moçada, se alegravam e incentivavam os participantes. O percurso inicial foi até o Aero Clube, onde a sociedade estava reunida para um baile de carnaval, naturalmente, e a animação foi imensa, os espectadores aplaudiam entusiasticamente e foi uma felicidade inesquecível ter feito parte daquele grupo tão empolgado.
No ano seguinte o Barra Pesada foi para as ruas, com o objetivo de desfilar na Praça Governador Portela e veio a contar com um oponente, ao qual foi dado o nome de Iuruçú. Não saberia precisar o tempo que duraram esses blocos, porém durante alguns anos, ao vir passar o carnaval em Bom Jesus, cheguei a pegá-los desfilando, até que aos poucos foram se desfazendo. Se não me falha a memória de bom-jesuense ausente, me parece que o Iuruçú foi o remanescente, ainda que bem reduzido.
Considerei a presença e o desfile dos bonecos gigantes do Tupi bastante interessante, o que significa uma doce lembrança da infância, época em que as crianças ainda eram tolinhas, sem informações como hoje se tem excesso, e confesso que sentia um certo medo deles. Eles continuaram por bastante tempo e, com o passar dos anos passei a considerá-los divertidos.
Agora quero remontar aos anos de 1935/36, ocasião em que meu pai, Levy de Aquino Xavier, apesar de pouco conhecido atualmente em sua cidade, foi poeta, músico e regente de bandas e orquestras, e, em sua época foi um homem à frente do seu tempo. Pois ele criou o Bloco Carnavalesco Rosa Branca, para o qual compôs uma animada marchinha, cujos integrantes, em sua maioria moças, desfilavam uniformizadas sobre um carro alegórico montado em cima de um caminhão da serraria do meu avô, tocando, cantando e dançando animadamente para a alegria do povo não só da cidade, mas para os muitos “turistas” vindos de Niterói, Cabo Frio, Petrópolis e tantas outras cidade do Estado, dada a animação que causavam.
Para opor-se ao Rosa Branca foi criado o Bloco Recreio das Flores e disputavam o campeonato de um carnaval tão puro, sem uso de bebida alcoólica e sensualidade, mas traziam uma alegria que o povo bonjesuense tanto apreciava.
O segundo carro do Rosa Branca foi inspirado em seu nome e trazia uma imensa rosa branca que ao abrir-se exibia a figura de uma jovem dançando alegremente e, assim, ia a rosa, abrindo e fechando, o que, convenhamos, na década de 1930 era de uma criatividade imensa do meu pai, uma das razões de considerá-lo à frente do seu tempo. O que deixava papai enfurecido foi o apelido que seu rival deu ao seu bloco, de Repolho, dada a função da rosa abrir-se e fechar-se.
O Rosa Branca tinha sede no centro da cidade, cujo nome era Salão Rosa Branca, onde muitos bailes foram realizados, que iam até o raiar do dia, pois música não lhes faltava, com um maestro e pistonista de primeira à frente, e muitos músicos ligados a ele, presente que estava em todas os segmentos de música da época.
Termino dizendo, que desde sempre Bom Jesus foi uma cidade musical, berço de muitos músicos competentes e dedicados e, por que não dizer, carnavalescos também!!







14/02/2017

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