Norberto Seródio Boechat: um dos grandes escritores do país
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Hoje, faz anos Norberto Seródio Boechat, um dos grandes escritores do país. Nascido em sua querida Pirapetinga de Bom Jesus, distrito de Bom Jesus do Itabapoana, integra o PEN (Poesia, Ensaio ou Narrativa) Clube, uma associação mundial de escritores, fundado em Londres, em 1923, e que congrega cultores da palavra escrita e falada em 150 centros no mundo. Sua posse como membro efetivo ocorreu no dia 27 de novembro de 2016.
No Brasil, a entidade surgiu no dia 2 de abril de 1936 e, atualmente, conta, entre seus membros, Nélida Piñon e Carlos Heitor Cony, ambos da Academia Brasileira de Letras.
Um dos livros mais festejados de Norberto é "Lembranças de Escritas".
A respeito desta obra, Dalma Nascimento, doutora em Teoria Literária e Literatura Comparada (UFRJ), salienta que " o médico-escritor Norberto Serôdio Boechat foi recolhendo rios de memórias ficcionalizadas nas páginas descritas destas Lembranças de escritas, onde pulsa a vida, mas também lateja o coração."
Olívia Barradas, doutora e professora de Literatura Comparada, Semiótica e Teoria Literária, ex-professora de Literatura Brasileira da Universidade de Paris III, salientou, por sua vez: " Parafraseando o médico baiano Clementino Fraga ao afirmar que 'Medicina é Ciência e também Arte', Norberto Seródio Boechat alia a ciência médica à linguagem artística, despertando com estas Lembranças de escritas a emoção no leitor".
Eliana Bueno Ribeiro, doutora em Ciência da Literatura, pela UFRJ, com pós-doutorado em Literatura Comparada pela Universidade de Paris III, e editora da revista Passages de Paris, salientou, sobre a obra: "Mais feliz, este menino-interiorano-médico-da-cidade chega ao dia da narração. Mais que histórias estruturadas temos aqui cenários e personagens como ínidices de momentos, índices de um tempo e da passagem do tempo. Farpas de madeira que seguem a correnteza e servem como roteiros para que cada leitor viaje até sua própria infância e reencontre os coadjuvanets de sua história particular".
O editor Muro Carreiro Nolasco ressaltou, por sua vez: " As situações aqui registradas nos emocionam, e trocamos de lugar com o pensador ao tentar entender o correr do tempo e as mutações. O autor e os personagens a desfilar histórias... O livro leva a pensar, comove e encanta".
Além de ser considerado uma obra-prima, a capa da obra reproduz aquarela criada pela premiada artista plástica paulista Veronica Debellian Accetta.
Norberto Seródio mantém, ainda, com o apoio de sua irmã, Maria Lúcia Seródio Boechat, o precioso Museu da Imagem, localizado em Pirapetinga de Bom Jesus.
Segue texto do livro "Lembranças de Escritas".
Museu da Imagem tem como diretora Maria Lúcia Seródio Boechat |
Peças raras da época escravocrata compõem o acervo da entidade |
Roda d'água em ambiente paradisíaco em Pirapetinga de Bom Jesus |
Segue texto do livro "Lembranças de Escritas".
A ETERNA AUSENTE
Década de 50.
Oito anos.
Estrada Bom Jesus - Vargem Alegre.
Ao voltarmos da cidade, lá estava a menina na cerca de sua casa, à espera. Diminuíamos a velocidade para vê-la, infalível, pendurada no cercado do quintal. Segurava-se com a mão direita e acenava a esquerda.
Loura e branquinha. Muito bonita. Impossível saber de onde vieram as marcas arianas na garota pobre do barraco beirando a estrada. Não entendo, também, por que em nenhum momento paramos, por que não correspondemos num gesto o amor transmitido ao acenar. Creio que em seu reduzido universo, a busca do momento a impregnava, tornando-a parte de outras vidas, outras pessoas, do mundo que, então, se desfilava na via solitária. Ansiava, talvez, por um afeto, um toque junto ao coração.
É provável fosse filha única. Nunca vimos outra criança ao redor. O que teria sido sua vida entre adultos? Que mundo encerraria o interior da cabana? Como os pais estariam contribuindo para o crescimento do ser que fazia daquele instante breve de nossa passagem a eleição de um acontecimento? Ao respondermos com as mãos, ela sorria feliz. Passávamos e, ao olharmos para trás, ainda a víamos acenando no meio da poeira deixada pelo jipe.
Hoje, passada tanta vida — e tão rapidamente —, pergunto--me, onde estará? Casou-se? Teve filhos? Foi feliz? Tem um quintal cheio de netos? Morreu? Indagações que no vácuo desse tempo consumido apertam a garganta, deixam aberta a inútil expectativa de um vir a saber que não acontecerá... É a resposta que se espera, mas que jamais virá...
Há muito a casa não existe mais. A estrada, asfaltada e, por isso mesmo, inexpressiva de lembranças, é uma reta que matou velhas curvas do caminho. A menina foi-se tal qual o pó, tal qual aquela nuvem de poeira que termina por sobrepor-se às cercas, cobrindo-as de amarelão pálido, triste, aguardando que a chuva venha e lave tudo.
Não tenho dúvida: a garotinha foi a primeira mulher de minha vida. Tão absoluta que decididamente inesquecível. Definitiva. Jamais a tive. Nunca paramos para que eu me permitisse o contato de gente.
Assim, porque não a tive, sempre será indelével imagem, a eterna ausente: mão movendo-se avidamente como a dizer, por que não parou? Passou e não ficou para pacificar-me a vida.
(páginas 17/18)
O Norte Fluminense deseja a Norberto Seródio Boechat muitos anos de vida!
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