Augusto Roa Bastos
Me solta, vamos ver.
Saia do meu caminho, seixo.
Largue do meu braço, espinho do matagal.
Retire-se do meu interior, adorno de satanás.
Anda, separa de mim.
Anda pobreza.
Anda.
Anda.
Me solta já.
Me solta, te digo.
Lambe minha pele e saem machucados
Solta em minha frente e descascas meus cabelos
Sentes no meu estômago e pesa como rocha.
Ferves em meu sangue, debilitando-me,
Como fogo queima meus ossos.
Distancia-te, que não se agrisalhem.
Anda pobreza.
Ande, de meu lado, ande.
Não me faça tropeçar novamente.
Não jogue outra vez com minha vida.
Não movas mais meus braços, agitando-me.
Não roa mais meu juízo como cupim.
Nunca mais.
Nunca mais.
Estou cansado de você, pobreza.
Vai embora, miséria.
Já floresce em minha frente o suor do homem.
Ande, separe de mim.
Vá embora.
Augusto Roa Bastos é considerado um dos escritores e poetas mais importantes do Paraguai. Este poema foi originalmente composto na língua guarani.
Lula presidente.
ResponderExcluir