quinta-feira, 8 de julho de 2021

TERIA O ALFERES RETORNADO A OURO PRETO?

 

Desembargador Antônio Izaías da Costa Abreu


Durante bastante tempo, acreditou-se que o alferes Silva Pinto retornou a Ouro Preto – MG, em 1838. Entretanto, esse suposto fato não se sustenta pelas razões que passo a expor.

Necessário advertir que, à época, o deslocamento de Ouro Preto ao lugar de assento desses pioneiros desbravadores era por demais sacrificante. Não haviam estradas, boa parte do percurso era picadas, provavelmente demorava-se cerca de um mês e meio para vencer o trajeto. O viajor sujeitava-se às agruras das intempéries; restrição de alimentos para si e os seus, além de pastos para os animais; acomodações para os tropeiros e os alojamentos precários e entre outros fatores adversos que, certamente, contribuíram para que o alferes e sua mulher confiassem a criação e educação de seu recém-nascido, Carlos (futuro comendador) aos avós maternos ou parentes próximos, afastando-o por longo período de seus pais.

Não é crível que o alferes Silva Pinto e sua mulher se afastassem das terras apossadas para residirem por alguns anos em Ouro Preto, colocando em risco o próprio patrimônio construído com muito esforço.

Melhor examinando o noticiado, à esteira dos fatos, pergunta-se: Se o alferes Silva Pinto já tinha se afastado por cerca de treze anos de Ouro Preto-MG, o que o motivaria retornar com a família àquela cidade, quando, na verdade, seus interesses maiores ele os tinha nas terras que apossou? Também, sobre o suposto retorno, há que se indagar: No período de ausência, a quem o alferes confiaria a administração de seus bens e negócios? Ademais, seus filhos, sequer haviam atingido a adolescência. Portanto, improvável a hipótese do afastamento, por se mostrar deveras incoerente.

Necessário, outrossim, esclarecer que no período de 1838 a 1842, o alferes encontrava-se em franca atividade na Fazenda do Bálsamo, dando continuidade à cultura do café e obtendo resultados satisfatórios desde as primeiras colheitas. Cabe, também, enfatizar que desde a sua chegada, foi ele uma das figuras mais respeitadas da região e que durante o período supracitado, assim como por todo o tempo em que lá viveu, ocupou cargos de Juiz de Paz; Delegado de Polícia; eleitor do 2º Distrito; produtor de café e comerciante, conforme registros do Almanak Laemmert, Administrativo, Mercantil e Industrial.

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