sábado, 30 de agosto de 2025

Maestro Bastião, a memória viva de Bom Jesus

                               Por Gino Martins Borges Bastos 


 
Maestro Sebastião Ferreira
 (Foto: acervo da Lira Operária Bonjesuense)

A memória do Maestro Sebastião Ferreira, conhecido como Professor Bastião, é uma música eterna.

Na história de Bom Jesus do Itabapoana há nomes que se confundem com a própria alma da cidade. Um deles é o do Maestro Sebastião Ferreira, mais conhecido como Professor Bastião. Negro, elegante em seu terno bem passado, foi muito mais que um regente: foi mestre, educador e formador de gerações que encontraram na música não apenas um ofício, mas também uma identidade.

À frente da Lira Operária Bonjesuense, a popular “Furiosa”, Bastião conduziu músicos e futuros maestros. Sob sua batuta surgiram talentos como Nilo Rodrigues de Souza, atual regente da Lira, e Áureo Fiori, que a comandou por muitos anos. A escritora e musicista Vera Viana também foi sua aluna, que guardou lembranças de suas aulas e do rigor com que o mestre ensinava.

Um de seus legados mais marcantes foi o arranjo do Hino de Bom Jesus do Itabapoana. A canção, originalmente intitulada “Marcha a Bom Jesus”, nasceu da inspiração de Salim Darwich Tannus, descendente de libaneses, e foi transformada em hino oficial no governo do prefeito Oliveiro Teixeira. Desde então, cada execução da música traz consigo a assinatura silenciosa do maestro que a harmonizou.

Mas o Professor Bastião não limitava sua arte às solenidades. Ele acreditava na força da música como experiência coletiva. Na década de 1950, organizou uma inesquecível orquestra de acordeon formada por crianças e adultos, que se apresentou na Praça Governador Portela, e também na II Exposição Agropecuária e Rural de Bom Jesus. Entre os jovens acordeonistas estava Vera Viana, então com 12 anos, que guardou a fotografia do espetáculo, estampada com uma faixa de propaganda da loja “A Social”, patrocinadora dos tecidos usados no evento. O concerto encantou a cidade inteira e permanece na memória afetiva de quem o presenciou.

A relação de Bastião com seus alunos era de proximidade. Costumava dar aulas em casas particulares, razão pela qual o chamavam de “professor”. Foi nessa intimidade que transmitiu seu saber a músicos como Áureo Fiori, que frequentava sua residência na Rua da Igualdade, recebendo lições de leitura musical e, mais tarde, o precioso arquivo de partituras do mestre. Já Nilo Rodrigues começou na juventude tocando sanfona na zona rural, até ser guiado por Bastião para a Lira, onde permanece até hoje como um de seus maiores herdeiros.

Os relatos de antigos discípulos e moradores são unânimes em reconhecer sua importância. O maestro  dinamizou a vida musical de Bom Jesus, e dele nasceram gerações de instrumentistas, compositores e maestros. 

A musicista Ana Maria Baptista Teixeira assinalou emocionada: "Nosso querido e saudoso Maestro Bastião! Foi meu primeiro professor de acordeon. Maura e Angela Tannus também estudaram com ele, assim como Maria Célia Bastos. Ele era uma figura ímpar. Conseguia reunir grupos de acordeonistas, em praça pública, para audições musicais e hoje,a maioria de acordeonistas bonjesuenses passaram por suas mãos. A " velha guarda" de Bom Jesus foi aluna do Maestro Bastião. Obrigada,querido professor!"

Assim, a presença de Sebastião Ferreira ultrapassa o tempo. Ele não deixou apenas arranjos ou partituras: deixou uma escola invisível, feita de disciplina, paixão e entrega. Sua história é parte indissociável da própria memória cultural de Bom Jesus.

E quando a cidade canta o seu hino, quando a Lira ergue os metais ou quando um acordeon abre suas asas de vento, o Maestro Bastião está ali, invisível, mas inteiro, regendo outra vez.

Porque há mestres que não morrem: transformam-se em música e também em nome de rua: Rua Maestro Sebastião Ferreira.

E a música, em Bom Jesus, ainda sussurra o seu nome: Professor Bastião. 


Orquestra de Acordeon organizada pelo Maestro Sebastião Ferreira 




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