Por Gino Martins Borges Bastos
Therezinha Loureiro Borges carrega seus anos de vida nos olhos azuis, mas, no brilho deles, ainda brinca a menina que amava poesia.
Viúva de Luiz Ferreira Borges, o primeiro prefeito de Bom Jesus do Norte, nora de José de Oliveira Borges, primeiro prefeito de Bom Jesus do Itabapoana, e mãe de José Ary Loureiro Borges, que também assumiu o destino de sua cidade, ela é raiz viva das duas Bom Jesus.
Mas nada foi capaz de silenciar a menina que mora nela: aquela que, no Colégio Rio Branco, hoje Espaço Cultural Luciano Bastos, aprendeu versos com a professora Aurora Ferolla e descobriu que a poesia pode ser um jeito de existir.
Therezinha ainda recita versos como quem respira. Na época de estudante, quando havia concursos ela, invariavelmente, levava o primeiro lugar. Guardava com carinho os cartões de parabéns que a professora lhe enviava. “Eu era feliz”, diz ela, com a voz que guarda o eco de tantas rimas.
Hoje, por recomendação médica, permanece acamada, vez ou outra auxiliada por um aparelho de oxigênio. Mas as poesias, ah, essas não precisam de ar para viver. Continuam vivas, inteiras, saltando de sua memória para os lábios, como na infância.
E assim, aos 95 anos, Therezinha continua recitando, continua conquistando o primeiro lugar, não mais em concursos escolares, mas no campeonato silencioso da vida.
A I Arte e Cultura, a 19ª Primavera de Museus e o Espaço Cultural Luciano Bastos, erguido onde outrora funcionou o antigo Colégio Rio Branco, abrem suas portas em homenagem a Therezinha. Foi ali, na instituição de ensino, nos corredores da infância, que ela aprendeu não apenas a ler versos, mas a declamar a vida através da poesia.
Por recomendação médica, ela não poderá estar presente. Mas sua voz, ah, essa não se cala. Ela estará viva no eco das declamações, no murmúrio invisível que ainda percorre os bancos escolares onde se formaram suas primeiras palavras.
A professora, o colégio, os versos e a própria Therezinha se entrelaçam numa memória indissolúvel. Pois quando a poesia é dita com alma, ela não passa: permanece.
E assim, entre paredes que guardam histórias e corações que guardam lembranças, a poesia de Therezinha segue viva, eternizada no tempo, como se cada palavra sua fosse ainda um sopro de eternidade.
E Therezinha continua sendo feliz.



Nenhum comentário:
Postar um comentário