Três personagens com o nome de Joaquim Teixeira de Siqueira Reis estão registrados em nossa história.
O primeiro é retratado pelo historiador Zico Camargo, em sua obra "Bom Jesus do Itabapoana". Segundo ele, "em 1863, estando o menino Pedro Teixeira Reis gravemente enfermo, seus pais, Joaquim Teixeira de Siqueira Reis e Dona Jovita Umbelina Teixeira (descendentes do casal Francisco e dona Felicíssima), prometeram ao Divino Espírito que, se o curasse, vesti-lo a caráter como Imperador do Guarda da Coroa e do Cetro.
Conseguindo a cura do menino, a promessa foi cumprida, tendo o pai do menino, Joaquim Teixeira de Siqueira Reis, ido comprar a roupa na corte. Lá, adquiriu a febre amarela, que então grassava. Voltou para casa e ainda assistiu à Festa do Divino, mas foi a primeira vítima da febre amarela na região".
Ele foi intendente por ocasião da primeira emancipação de Bom Jesus ocorrida no dia 25 de dezembro de 1890.
A pesquisadora Maria Cristina Borges encontrou a certidão de óbito do primeiro Joaquim Teixeira de Siqueira Reis |
De acordo com a certidão de óbito, cuja cópia foi obtida pela pesquisadora Maria Cristina Borges, Joaquim faleceu no dia 23 de agosto de 1891. Consta do documento: "Aos 14 de setembro de 1891, compareceu nesta Vila de Itabapoana, Antônio José Borges, empregado de comércio, residente na Barra do Pirapetinga, desta Freguesia e 1o. Distrito, e declarou que no dia 23 de agosto do corrente ano, pelas cinco horas da manhã, faleceu nesta Vila, o cidadão Joaquim Teixeira de Siqueira Reis, fazendeiro, residente na Barra do Ribeirão Sacramento, sem testamento... casado com D. Juvita Umblina Teixeira, deixando quatro filhos menores, Maria, Francisco e Bárbara...atestado médico do Dr. Duque Estrada Meyer..."
O segundo Joaquim Teixeira de Siqueira Reis é retratado no livro "ROBERTO SILVEIRA, A PEDRA E O FOGO", de José Sérgio Rocha, editado pela Casa Jorge, na página 71. Consta do livro:
"O fazendeiro Joaquim Teixeira de Siqueira Reis casou-se com Felicíssima Teixeira, a Ciça, quando esta tinha 13 anos. Foram dois os filhos: Maria do Carmo Teixeira, conhecida como Biluca, e João Teixeira de Siqueira, o Tote.
Após cinco anos de casamento, contudo, Joaquim faleceu, deixando uma fazenda de herança para os dois filhos. Uma fazendola que foi dividida ao meio. [Metade pertencia a Tote, metade à irmã.
Essa propriedade passou a ser conhecida, por esse motivo, como Fazenda do Meio. Outra corrente diz que o nome da Fazenda se deu pelo fato dela estar situada entre Barra do Pirapetinga e Calheiros]
O sogro de Ciça, João Teixeira de Siqueira, aconselhou-a a arranjar marido, escolhendo, então, para a nora, o administrador de sua fazenda, o mineiro Duarte Vieira Fraga, que era proprietário de uma olaria e fabricava um fumo de rolo grosso, só vendido na região.
O tempo passou e Boanerges Borges da Silveira, filho de Antônio Ignácio da Silveira e Maria Borges da Silveira, passou a gostar de Biluca.
Ocorre que Duarte não permitia o relacionamento, porque o mineirão detestava almofadinhas.
Boanerges Borges da Silveira |
Boanerges acabou indo para o Rio de Janeiro e ingressou na faculdade de engenharia, mas largou os estudos e foi trabalhar numa tipografia e, posteriormente, em uma gráfica. Arranjou emprego público e retornou a Calheiros, maior de idade, disposto a pedir a mão da enteada do homem que não suportava mãos sem calos.
Após muita insistência, contudo, Duarte acabou cedendo e autorizando o matrimônio entre ambos.
Por ocasião do casamento de Biluca com Boanerges, para mostrar a todos que ela não era uma órfã desprotegida, Duarte organizou a maior festa de casamento já vista em Bom Jesus. Foi a partir desse gesto generoso que Biluca passou a chamá-lo de pai.
Duarte guardava uma carta na manga. Já que ia pagar a conta do casório, escolheu o local da festança. Foi num sítio em Barra de Pirapetinga, justamente o pedaço de terra destinado a Biluca na partilha de bens feita muitos anos atrás, quando da viuvez de Ciça Teixeira.
No dia seguinte, Duarte viu Boanerges se aprontando para voltar para Bom Jesus e, de lá, para o Rio de Janeiro, onde pretendia morar com a mulher. Chamou-o num canto: - Tomei conta das coisas da sua mulher até hoje. Agora a terra não é mais só dela. É sua também. Eu não quis o casamento. E, sendo agora sua propriedade, não tomo mais conta dela. Você não vai para o Rio. Vai é ao Banco Hipotecário, em Campos, porque lá está todo o dinheiro do sítio".
A FAZENDA DO MEIO
Tulha da época dos escravos ainda permanece de pé, na Fazenda do Meio |
A respeito da Fazenda do Meio, Atalibia Boechat, nascida em 24/11/1945, filha de Amélia Boechat Borges e Antônio José Borges, da Barra do Pirapetinga, lembra que seu avô Marciano Domingues adquiriu-a de Boanerges. Conta ela:
"Meu avô, Marciano Domingues, era companheiro de Boanerges em negócios envolvendo café. Ele era chamado de Pai Eta. O apelido se deu pelo fato de vovô morar na Fazenda do Leite, próximo a Mirindiba. Como nós, quando crianças, não sabíamos pronunciar a palavra 'leite' corretamente, acabávamos dizendo 'eta'. Assim, passamos a chamar nosso avô de Pai Eta e nossa avó, Atalibia Boechat Domingues, de Mãe Eta" .
Atalíbia Boechat: resgate da história da Fazenda do Meio |
Atalíbia diz que sua mãe Amélia gostava de contar histórias para ela e sua irmã Ana. "Mamãe contava que meu avô Marciano comprou a Fazenda do Meio, que ficava entre Barra do Pirapetinga e Calheiros, e que pertenceu a Boanerges Borges da Silveira, pais dos governadores Roberto e Badger Silveira. A compra foi feita 'com porteira fechada,' o que significa dizer que tudo o que estava dentro da fazenda foi adquirida".
Prossegue ela: " No primeiro dia em que minha mãe foi dormir na Fazenda do Meio com os doze irmãozinhos, juntamente com os avós, todos ficaram muito contentes, pois cada um passou a ter seu quarto. Por volta das duas horas da madrugada, contudo, alguns irmãos disseram que viram assombração. Foi uma gritaria geral na Fazenda e todos acabaram indo dormir no quarto dos meus avós.
Assim que a Fazenda do Meio foi vendida para meu avô Domingues, minha madrinha Carolina Domingues Boechat, que era minha tia, acabou ficando com alguns móveis que pertenciam a Boanerges e Biluca. Posteriormente, os móveis foram transmitidos para meus pais Antônio José Borges e Amélia Boechat Borges. Esse guarda-roupa que, com satisfação, permutei com a Associação dos Amigos do Memorial Governadores Roberto e Badger Silveira é um deles", finaliza Atalíbia.
Guarda-roupas que pertenceu a Joaquim Teixeira de Siqueira Reis, na década de 1890, e a Boanerges Borges da Silveira |
Biluca herdara a Fazenda do Meio.
Boanerges Borges da Silveira, pai dos governadores Roberto e Badger Silveira, foi proprietário, em sua vida, de três propriedades rurais, todas em Calheiros, Bom Jesus do Itabapoana: a primeira foi a Fazenda do Meio, resultado de herança de sua esposa Maria do Carmo Silveira, a Biluca, tendo em vista o falecimento de seu pai, Joaquim Teixeira de Siqueira Reis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário