Saulo Soares |
Cães ladram, lobos uivam:
É noite na mente escura.
Nada escapa aos dentes dessa matilha,
Ao escalpo dessa faca,
Ao frio dessa paura.
Cães ladram, lobos uivam:
As ruas são sua ilha de inexata proporção.
O som das patas do relógio, o tempo, à
unha, marca:
Ninguém se desvencilha desse necrológio
(como se supunha),
E a morte os sonhos em naufrágios abarca.
Cães ladram, lobos uivam:
O medo paga o óbolo ao silêncio.
A cada passo (será que ouço?) que sussurra
no lóbulo pênsil a madrugada,
Do fundo do poço urra um vento inerte uma
triste gargalhada.
Cães ladram, lobos uivam:
Mas, eis que vejo a luz do dia que
amanhece!
Um pavio aceso num rosário, um sol de
preces a afugentar os cães!
Ó, vãs noites! Ó, incerto itinerário que
oferecem as sangrentas noites vãs!
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