Na noite de 2 de agosto, o luar dourado pousou com doçura sobre a Praça Governador Portela, como se ajoelhasse diante da memória e da música. A III FLICbonjê, Feira Literária e Cultural de Bom Jesus do Itabapoana, ganhava um capítulo que soava como oração.
Ali, crianças e jovens açordescendentes reuniam-se para celebrar as ilhas distantes que habitam perto do peito: os Açores. No ar, o timbre vivo de vozes e o diálogo afinado dos instrumentos anunciavam o nascimento da primeira apresentação da TUNA LUSO-BONJESUENSE, braço musical da jovem ABIJAL, Academia Bonjesuense Infantojuvenil de Artes e Letras. Cada gesto, cada nota, era um aceno de gratidão às raízes que moldaram a cidade.
A história vinha de longe. Em 1860, na zona rural de Bom Jesus, brotou a tradição da Festa do Divino Espírito Santo, herança açoriana que se transformaria na amada e tradicional Festa de Agosto. Décadas depois, em 18 de junho de 1899, chegou o Padre Antônio Francisco de Mello, açoriano de alma vasta, filho de camponês e gigante da cultura, que deixou marcas profundas até sua partida, em 13 de agosto de 1947, data que passou a ser o Dia Municipal do Imigrante Açoriano. Nomes como Seródio, Borges, Silveira e Rezende tornaram-se pilares dessa herança.
No brasão da ABIJAL, desenhado pelo acadêmico Matheus Brazil Castro Silva Rego, as nove ilhas dos Açores repousam ao lado da frase do hino açoriano, "Pela Paz à Terra Unida”, como um selo de pertença e afeto. E tal foi a força dessa identidade que o Governo dos Açores reconheceu oficialmente a academia, destinando-lhe mil euros para apoiar sua missão cultural.
Foi no coração dessa história que nasceu a TUNA LUSO-BONJESUENSE, inspirada nas tunas açorianas — grupos universitários que, desde o século XIX, vestem-se com trajes tradicionais e levam música às ruas. Aqui, ela ganhou vida com crianças e jovens guiados por Anizia Maria Pimentel, da Escola de Música JEMAJ, ao lado dos professores Alice Lino Cyrillo, Hebert Coqui e Raphane Marques. A pedagoga Giselle Magalhães e o escritor açoriano Francisco Amaro Borba Gonçalves somaram força e alma ao projeto.
Naquela noite sagrada, subiram ao palco:
João Henrique Silva, Sax Alto
Alice Silva, Clarinete
Davidson Silva, Percussão
Asafe de Souza Aureliano, Sax
Emilly de Souza Aureliano, Clarinete
Lavinnya de Souza Aureliano, Clarinete
Elisa Mel de Oliveira Nascimento dos Santos, Voz
Raysalini de Oliveira Nascimento dos Santos, Voz
Ana Alice da Silva Sátolo, Voz
Esther Christina Louzada Gonçalves, Voz
Beatriz de Fátima Magalhães Dias, Voz
A apresentação foi aberta pelo jovem Matheus Brazil, que, com sotaque açoriano, saudou o Dr. José Andrade, Diretor Regional das Comunidades do Governo dos Açores, assim como os açorianos e açordescendentes de todo o mundo.
Na sequência, Beatriz Magalhães, presidente da ABIJAL, lembrou que aquela estreia histórica simbolizava a ligação luso-brasileira, unindo melodia, afeto e tradição, um elo vivo entre gerações. Expressou gratidão à Tuna, à Escola de Música JEMAJ, à professora Anizia Maria e ao Dr. Gino Martins Borges Bastos, apoiador essencial do evento.
Então, a TUNA LUSO-BONJESUENSE fez soar músicas tradicionais de Bom Jesus, canções açorianas e musicas folclóricas regionais. O público, em silêncio de igreja, ouviu como quem acolhe uma prece.
E assim, a nova geração de açordescendentes bonjesuenses mostrou que não é promessa: é realidade. Uma realidade tecida com memória, reverência e amor. Um testemunho vivo da profecia de José Andrade:
“O passado tem futuro.”
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