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Vargem Alegre é nome que persiste no coração e na memória dos pirapetinguenses |
Há nomes que se inscrevem nos mapas, mas não se apagam da boca do povo.
São os nomes que resistem, mesmo depois dos decretos oficiais, como se guardassem no som das sílabas a alma de uma cidade.
Em Bom Jesus do Itabapoana, ainda se fala da rua dos Mineiros, embora ela tenha atravessado metamorfoses: já foi rua Vinte e Cinco de Dezembro e hoje atende pelo nome de Gonçalves da Silva.
Mas quem viveu, quem ouviu, quem caminhou por ali, continua a chamá-la pelo nome que palpita no coração.
Ao lado da rodoviária, há ainda quem se encontra no Alto da Santa Rita. O Largo guarda a lembrança da primeira capela, erguida entre 1851 e 1853, nascida de promessa e devoção.
Há também a antiga rua de Baixo, que virou Aristides Figueiredo, e o pedaço de chão chamado Barro Branco, agora Tenente José Teixeira.
O tempo corre, mas a memória brinca de permanecer.
No bairro Volta d’Areia, havia a vexatória rua dos Duzentos Réis. Os moradores, pobres mas orgulhosos, pediram ao padre Mello a troca do nome. O pároco, sensível, renomeou-a como rua da Esperança. E os homens e mulheres saíram batendo palmas, leves, como se também tivessem mudado de destino.
A avenida Padre Mello, antes aberta na capoeira como Avenida Mocidade, ganhou o nome definitivo após campanha do jornalista Sylvio Fontoura, fundador do primeiro jornal da cidade.
E a praça Governador Portela já foi simplesmente a Praça Municipal, no alvorecer da República.
Entre histórias sérias e memórias travessas, há quem ainda recorde a antiga rua da Guaxa, espaço marginal de prostituição.
Ou a rua 16 de Janeiro, no Pimentel Marques, que em certo tempo ficou conhecida como rua dos Velhacos.
O maestro Áureo Fiori, com humor, explicou o apelido: “Alguns compravam fiado no armazém do José Bastos e, para não pagar, desviavam pelo atalho. A rua ficou sendo a dos velhacos, e pronto!”.
Os distritos também guardam seus nomes secretos.
Pirapetinga ainda é, para muitos, Vargem Alegre.
Carabuçu, para outros tantos, permanece sendo Liberdade.
E assim se revela um traço humano: decretos podem mudar placas, mas não mudam corações.
A língua da gente insiste em preservar aquilo que um dia fez sentido.
Porque a memória não se escreve em atas oficiais, mas sim na lembrança dos encontros, nas histórias contadas, na vida que se repete.
Os nomes persistem.
E enquanto persistirem, Bom Jesus continuará a ser mais do que ruas e praças: será território de apegos, mapa invisível escrito na alma de seus habitantes.
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