segunda-feira, 25 de junho de 2018

Amizade segundo Fernando Pessoa



Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade. 

Escolho-os não pela pele, mas pela pupila, que tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. 

Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta. Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria.

Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. 

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. 

Não quero amigos adultos, nem chatos. 

Quero-os metade infância e outra metade velhice. Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto, e velhos, para que nunca tenham pressa. 

Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril.


Enviado por Giselle Magalhães



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Fernando Pessoa (1888-1935) foi um poeta e escritor português. É considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa e da literatura universal.

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